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AS ALCAÇARIAS

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Existe uma gravura, datada de 1850, da autoria de F. de P. Graça, impressa na Oficina de Silva Porto, em Beja, e que nos mostra a cidade, perspectivada de nascente, sendo a vista tirada, aproximadamente, do local onde existia um antigo cruzeiro, fronteiro à ermida de S. Pedro. É possível apreciar a dita gravura no átrio do edifício do Arquivo Distrital, pois que a mesma, em grande ampliação, mura a parede fronteira à porta de acesso do mesmo átrio. Se não nos foi possível apurar quaisquer registos biográficos sobre o seu autor, F. de P. Graça, sabemos que o impressor, de seu nome António Inácio da Silva Porto, era natural do Porto de onde veio para Évora, em 1832, trabalhar como caixeiro. Porque revelasse dotes para os trabalhos de litografia, comprou uma oficina litográfica nesta mesma cidade após o que, por algum tempo, se ausentou para Lisboa onde trabalhou na litografia da Imprensa Nacional por forma a adquirir os conhecimentos necessários para o desempenho do ofício. Regressad

A RUA DO CATIVO

A propósito da Rua do Cativo, actual Rua Capitão João Francisco de Sousa A toponímia é reflexo da história local e é, por isso, bastas vezes, símbolo das opções político-sociais e dos valores religiosos, éticos e cívicos que enformam uma comunidade em diferentes contextos históricos. Posto isto, convenhamos que alterar a toponímia é bulir com a história local, apagá-la, adulterá-la. A cedência fácil às conjunturas políticas, a sua glorificação e legitimação, têm fatalmente conduzido a alterações toponímicas as mais das vezes reprováveis e nefastas para a memória local. À toponímia sedimentada pelo tempo, sucede-se uma onomástica ditada pela moda e pelo contexto político-ideológico prevalecente a cada momento. Se tal se justifica em momentos de ruptura histórica, será, contudo, de evitar a troca de um nome que a história local fixou e legitimou por um epónimo de duvidosa ou fugaz relevância. Tal prática devia, pois, cingir-se aos locais e ruas anepígrafos. Vem o intróito a propó

A NOVA DOGMÁTICA

A uma perspectiva historiográfica acientífica, fortemente ideologizada, pautada pelo fabuloso e lendário, que nos foi legada pelo Estado Novo, sucede agora uma nova perspectiva cujos fundamentos são o preconceito de cariz moralista, descontextualizado, de contornos marcados pela intolerância e pelo dogmatismo bipolar, simplista e ignorante. A um passado marcado pela gesta de uma multidão de heróis e santos, obreiros de tarefas ciclópicas, sucede agora a perspectiva de um passado histórico marcado pela acção de hordas de facínoras de que nos devemos amargamente envergonhar e penitenciar. Toda a simbologia que ritualiza e presentifica esse abominável passado é agora objecto de repúdio e de violência vandálica. Começámos pela arte pública, com a destruição de estátuas, mas a continuarmos nesta senda não tarda estamos a assistir à exigência da revisão e reescrita dos manuais escolares, à crítica feroz e destrutiva de todo o legado pictórico, literário, arquitectónico, a tudo aquilo

JUDEUS E CRISTÃOS-NOVOS EM BEJA

  A proposta de alteração da lei que concede a nacionalidade portuguesa aos judeus sefarditas que provem a sua ascendência portuguesa tem provocado acesa polémica e dividiu mesmo a família socialista, de onde partiu a dita alteração, proposta pela deputada Constança Urbano de Sousa. Recorde-se que os ex-presidentes Mário Soares e Jorge Sampaio foram apoiantes de primeira hora da referida lei, como forma de reparação histórica e moral a uma comunidade de portugueses expulsa do território pátrio por motivos religiosos, mais do que étnicos. A presença de judeus sefarditas em território português é anterior à própria fundação da nacionalidade e antecede a invasão muçulmana, ocorrida em 711. Jorge Sampaio é, ele próprio, descendente de judeus sefarditas que regressaram ao país após a sua expulsão, ocorrida nos finais do século XV. A Península Ibérica era nomeada em hebraico por Sefarad, daí se designarem por sefarditas os judeus de proveniência ibérica. Possuiu Beja o seu bairro