BEJA SETECENTISTA – O TERMO CONCELHIO
“Em pouco se chega a Beja. Lá no seu alto edificada (e aqui,
nestas paragens rasas, falar de alturas não é nenhuma vertigem), a antiga Pax
Julia romana não parece vir de tão longa antiguidade”.[1]
É esta a imagem marcante da Cidade de Beja; na planície chã alveja a Cidade
numa proeminência que, se em pouco sobreleva a campina circundante, distingue-a
e salienta-a. E essa imagem tanto a colhemos na descrição de feição literária
de Saramago como em obra de cariz científico. Gerardo Pery no-lo diz: “O ponto
culminante do plan’alto é justamente aquelle em que se acha edificada a cidade
de Beja, que da sua altitude de 282 metros domina todo o concelho e regiões
circunvizinhas. (…) Sob o ponto de vista orographico o concelho apresenta em
geral uma sucessão de planuras, cujos níveis vão gradualmente descendo em todas
as direcções, a partir do ponto culminante, Beja”.[2]
Em Portugal quase não há cidades de planície. E se a função defensiva
determinou a escolha da maioria dos sítios urbanos é quase sempre o lugar alto
e escarpado o germe do núcleo urbano que aí procurou protecção e refúgio. A
cidade que de modo mais impressionante revelou esta preferência pelos sítios de
oppida foi, porventura, Beja,
apinhada em torno do castelo, no cimo de um outeiro que domina a planície
circundante.[3]
Perscrutemos o olhar dos corógrafos setecentistas sobre a
mesma realidade. Carvalho da Costa diz-nos que “Na latitud de 37. graos, 56.
minutos, & na longitude de 13. graos, 18. minutos, quatro legoas ao
Noroeste da Villa de Serpa, & onze ao Sudueste da Cidade de Evora, no plano
de huma imminencia, que se levanta em pouca desigualdade ao meyo de suas
campinas, está situada a nobre, & antiga Cidade de Beja em figura circular,
cercada de fortes muros com quarenta torres, & soberbo Castello (…).[4]-[5]De
forma menos precisa, assim nos faz a descrição da cidade Luís Caetano de Lima:
“Nove legoas ao Sudoeste da Cidade de Evora, e pouco mais de duas do rio
Guadiana se descobre a Cidade de Béja em hum sitio alguma cousa levantado no
meyo de campinas muy férteis, e aprazíveis.(…)”.[6]
Do mesmo modo caracteriza a localização da urbe pacense o Padre Luís Cardoso,
quase ipsis verbis com a descrição de
Carvalho da Costa, revelando uma óbvia contaminação entre os dois textos, sendo
o texto de Luís Cardoso posterior ao de Carvalho da Costa.[7]-[8]
Também o padre da Freguesia urbana pacense do Salvador, nas Memorias Paroquiais, nos oferece uma
descrição consonante com as anteriores. António Guerreiro de Aboim, Prior da
Igreja Colegiada do Salvador diz-nos que a Cidade “Está fundada em meyo de huma
iminência de terra cham que com pequena desigualdade se levanta em suas campinas
sendo sua figura circular (…). Diz-nos mais que “(…) esta Cidade de Beja hé
situada na Provincia de Alemtejo, em trinta e sete graos, e cinquenta minutos
de latitude, e dezesete minutos de longitude, vinte e cinco legoas distante da,
famosa, e sempre leal Cidade de Lisboa Metropole do Mundo, e capital do Reyno,
he onze legoas ao sudueste distante da Cidade de Evora Metropole do seu
Arcebispado”.[9]-[10]
Segundo Gerardo Pery, no
seu trabalho publicado em 1883, existiam na área do Concelho seis variedades de
solo argiloso proveniente de dioritos, pórfiros, rochas metamórficas
anfibólicas, rochas metamórficas feldspáticas, de xistos argilosos e de
aluviões modernos. O solo proveniente de dioritos é o mais rico e fértil. Os
denominados barros de Beja são solos
dioríticos de qualidade ubérrima. Classifica Pery os solos mais férteis como terras fortes, que cobrem não apenas os
campos de Beja, mas também faixas nas Freguesias de Salvada, Beringel e São
Brissos. Mas estes solos ocupam apenas cerca de um terço da superfície
concelhia; as terras medianas, de
menor aptidão agrícola, ocupam um pouco mais de um sexto da área do Concelho e
as terras fracas, por sua vez, ocupam
mais de metade da mesma área.[11] Apenas um terço da área
concelhia é de solos úberes, condição suficiente, contudo, para que a Cidade
fosse reputada como centro de uma região cerealífera de excelência e louvada
pela sua extraordinária riqueza agrícola.
Remontando ao século
XVIII, refere-nos o Padre Carvalho da Costa: “He esta Cidade abundante de paõ,
cevada, bom azeite, generosos vinhos, & frutos, & tem cento &
cinquenta hortas, muitos gados, & todo o genero de caça; tem minas de ouro
e prata, com três mil cento & dezoito herdades, em que entraõ as da Aldea
da Cuba, & seu termo. (…) He esta Cidade mui celebrada das nações
estrangeiras por sua fertilidade (…): ve-se a fertilidade na abundancia dos
frutos, porque produz todos aquelles, de que necessita a vida humana”.[12] O Padre Luís Cardoso
dir-nos-á o mesmo, ipsis verbis.[13]
Da fertilidade dos solos
e da abundância dos frutos produzidos nos dão também conta os padres das
paróquias do termo concelhio, nas suas respostas ao quesito décimo quinto do
questionário que lhes foi enviado em 1758. E se algumas freguesias ocupavam solos
úberes, outras delimitavam solos de fraca aptidão agrícola, o que desde logo
determinava uma maior escassez de moradores e menor colecta fiscal.
António Guerreiro de Aboim, Prior da Igreja Colegiada do
Salvador, anteriormente citado, diz-nos que “Os frutos que de seus campos
recolhem os moradores são abundante trigo, copioso azeite, e vinho, legumes,
mel, e algum linho: nas suas hortas, e quintas muita e excelente ortaliça de
toda a casta, bastantes frutas; e tudo o que as campinas desta terra produzem hé
de admirável gosto, e sabor”.[14]
A pitoresca imagem que o Prior nos transmite reflecte a realidade do termo da Freguesia
do Salvador, que se espraiava pelos férteis campos que rodeiam a urbe. O Padre
Bento da Costa, Cura da Freguesia de Santa Clara de Louredo, limítrofe da
Cidade, comenta que “Nesta freguesia a maior fabricação dos moradores della he
semiarem nas suas terras muitos
trigos bastante cevada, e algũ centeio, de que se colhem boas novidades segundo
os anos, que Deus manda. Ha tambem varias ortas donde se cultivam ademiraveys
ortalisas, e teem arvoredos que dão muntas frutas, e teem em si nascedios de
abundantes agoas (…)”.[15]
São as terras desta Freguesia de úbere qualidade e com muitos locais com água
de pé, origem de hortas e quintas, realidade ainda hoje patente.
Quanto a Cuba, distante para norte cerca de 3 léguas, de
terras fartas e de notável aptidão vinícola, o Prior Manuel da Fonseca Baptista
afirma que “(…) tem muitos ferrejaes, e terras de semear pam, e inumeráveis
vinhas, algumas hortas e fazendas he abundantíssima de agoas (…). Os fructos que os seus habitadores recolhem em mayor
abundancia são trigo, muyto vinho, e algum azeyte.[16]
Já de Marmelar, Freguesia extinta e que hoje integra o Concelho
de Vidigueira, o Padre José Lopes Gago refere que “Os frutos que produz esta
freguesia he trigo, cevada e centeyo, tudo em muita abundancia quando são os
annos invernosos a varge tambem produz muito
feyjam fradinho, e alguma fruta pouco gostosa”.[17]
Mas o panorama nem sempre é tão ridente. Outra bem diferente
é a realidade que nos é descrita sobre freguesias mais periféricas do agro
concelhio. De Albernoa, Freguesia de terras de fraca aptidão agrícola, de magro
solo arável, ditas popularmente terras galegas,
Pery denominou-as de terras fracas,
escassamente povoada, confinante com a Comarca de Campo de Ourique,
singularizada pela aridez da estepe, nos diz o seu Pároco que “O vasto, e
inculto terreno desta Parochia he regado pelas tres ribeiras = Louriçaes,
Cobres e Terges = que fertilizão os campos e regalão os moradores com bons
peixes: as principais produçoes são trigo, e mel: nos montes, e charnecas
pastão inumeráveis coelhos, lebres, perdizes, e javalis; mas tãobem se abrigão
muitas cilhas de colmêas”.[18]-[19]
Relativamente à Freguesia de Santa Victória informa-nos o
Pároco Simão Pires Calado que “Os frutos que se colhem nesta freguesia são
trigo sevada, e algum senteyo, e estes em pouca abundancia, por ser esta
freguesia quasi toda de matos, e charneca e das mais roins deste termo e por
esta rezão são seus lavradores pobres”.[20]
Quanto à Freguesia da Trindade o Pároco Bernardo João da
Cunha revela-nos que “Os moradores desta freguesia sustentanse a mayor parte do anno de suas lavouras, e ainda que lemitadas por estar esta freguesia situada entre mattos e os pobres
se sustentão de caça que matão e
vendem e tambem de muito carvão que fazem de raízes que tirão debaixo da terra.[21]
Finalmente, o Prior da paróquia de Vilas Boas, Diogo
Lourenço Sanches, afirma que “Os frutos que
recolhem de mayor vulto os moradores desta freguesia são os das searas de trigo, sebem que ainda neste he das mais estéreis do termo, por serem as suas terras
montoosas, e fragosas”.[22]
Tendo em atenção o Quadro 1, que nos representa a colecta
fiscal do quatro e meio por cento em
cinco anos distintos, espaçados no tempo, por forma a ser a amostragem mais
ampla de modo a contemplar o evoluir da conjuntura económica ao longo da
primeira metade do século XVIII, deparamo-nos com valores díspares que vão de
8,550 réis colectados na Freguesia da Trindade, no ano de 1750, até 170,170
réis colectados na Freguesia de Baleizão, no ano de 1720. A área de uma e outra
freguesia não apresentava valores muito diferentes. Há ainda que considerar que
a Freguesia de São Pedro de Pomares, hoje inserida na Freguesia de Baleizão,
ocupava a parte norte da dita Freguesia, confinante com a Freguesia de
Pedrógão, pelo que a área de implantação da Freguesia de Baleizão seria menor
do que a verificada na actualidade.
Quadro 1 - Valores da
colecta do quatro e meio por cento
(em réis)
|
ANOS |
|
||||
FREGUESIAS |
1716[23] |
1720[24] |
1730[25] |
1750[26] |
1755[27] |
Média |
Freguesia de Albernoa |
13,770 |
16,370 |
16,700 |
10,030 |
10,140 |
13,402 |
Freguesia de Alfundão |
31,040 |
29,610 |
30,890 |
30,590 |
30,660 |
30,558 |
Freguesia de Baleizão |
157,730 |
170,170 |
140,380 |
158,570 |
146,520 |
154,674 |
Freguesia e Limite de Cuba |
98,700 |
98,830 |
119,980 |
139,770 |
106,005 |
112,657 |
Freguesia de Ervidel |
17,300 |
20,310 |
17,270 |
22,920 |
17,040 |
18,968 |
Freguesia de Marmelar |
28,910 |
27,540 |
18,270 |
37,915 |
27,780 |
28,083 |
Freguesias de Mombeja e Vilas Boas |
41,130 |
38,870 |
------- |
-------- |
-------- |
40,000 |
Freguesia de Mombeja |
-------- |
-------- |
30,920 |
25,760 |
21,920 |
26,200 |
Freguesia de Nossa Senhora das Neves |
70,150 |
54,970. |
67,760 |
72,290 |
71,940 |
67,422 |
Freguesia de Pedrógão |
34,090 |
43,130 |
49,440 |
45,445 |
53,350 |
45,091 |
Freguesia de Peroguarda |
22,920 |
25,760 |
28,130 |
21,520 |
26,690 |
25,004 |
Freguesia de Quintos |
100,310 |
105,980 |
112,150 |
99,130 |
90,610 |
101,636 |
Freguesia da Represa |
39,890 |
41,120 |
28,600 |
29,650 |
27,020 |
33,256 |
Freguesia da Salvada |
45,430 |
46,280 |
29,340 |
43,870 |
42,950 |
41,574 |
Freguesia do Salvador - Beja |
58,290 |
60,280 |
60,340 |
34,390 |
23,860 |
47,432 |
Freguesia de Santa Clara de Louredo |
34,440 |
37,000 |
40,480 |
40,070 |
27,850 |
35,968 |
Freguesia de Santa Maria - Beja |
91,060 |
87,800 |
118,810 |
66,020 |
46,175 |
81,973 |
Freguesia de Santa Victória |
31,370 |
31,510 |
38,120 |
33,570 |
24,710 |
31,856 |
Freguesia de São Tiago - Beja |
63,380 |
60,050 |
82,860 |
60,250 |
38,970 |
61,102 |
Freguesia de São Brissos |
54,090 |
53,700 |
40,350 |
39,900 |
29,310 |
43,470 |
Freguesia de São João de Dentro - Beja |
120,660 |
125,630 |
93,250 |
66,610 |
52,430 |
91,716 |
Freguesia de São João de Fora - Beja |
66,560 |
65,345 |
90.900 |
54,460 |
35,460 |
62,545 |
Freguesia de São Matias |
41,930 |
47,050 |
33,550 |
50,740 |
57,400 |
46,134 |
Freguesia de São Pedro de Pomares |
45,140 |
46,830 |
32,600 |
41,160 |
42,510 |
41,648 |
Freguesia de Selmes |
104,480 |
99,820 |
101,240 |
101,360 |
99,615 |
101,303 |
Freguesia da Trindade |
21,590 |
22,130 |
21,390 |
13,920 |
8,550 |
17,516 |
Freguesia de Vilas Boas |
-------- |
-------- |
12,210 |
11,040 |
13,730 |
12,326 |
Tendo em conta a colecta fiscal do quatro e meio por cento realizada em cada uma das freguesias rurais
podemos dividi-las em freguesias de colecta baixa, <30,000 réis, colecta
mediana, >30,000 réis e <60,000 réis, colecta elevada, >60,000 a
<90,000 e colecta muito elevada, >90,000 réis. As Freguesias de maior
colecta fiscal eram as de Baleizão, Quintos, Selmes e Cuba e seu limite, cujas
médias, nos 5 anos analisados, superavam os 100.000 réis.
Quadro
2 – Colecta Fiscal
Colecta Fiscal |
Freguesias |
Colecta Fiscal Baixa <30,000 réis |
Albernoa, Ervidel, Marmelar,
Mombeja, Peroguarda, Trindade e Vilas Boas |
Colecta Fiscal Mediana >30,000 réis e <60,000 réis |
Alfundão, Pedrógão, Represa,
Salvada, Santa Clara de Louredo, Santa Victória, São Brissos, São Matias e
São Pedro de Pomares |
Colecta Fiscal Elevada >60,000 réis e <90,000 réis |
Nossa Senhora das Neves |
Colecta Fiscal Muito Elevada >90,000 réis |
Baleizão, Cuba, Quintos e Selmes |
A riqueza do produto agrícola por freguesia, reflectida nos
montantes da colecta fiscal, pois que o imposto do quatro e meio por cento incidia sobre todo o tipo de rendimentos,
era consequência de as áreas de implantação das mesmas freguesias se situarem
em solos de maior ou menor produtividade.
As terras mais produtivas achavam-se nas Freguesias de Cuba
e São Matias, a norte de Beja, São Brissos, a noroeste, Santa Clara de Louredo,
a sul, e Salvada, a sudeste, Nossa Senhora das Neves e Baleizão, a este,
Quintos, a sudeste, a declinar um tanto para leste, e o agro das Freguesias urbanas
de Salvador, Santa Maria, São João Baptista e Santiago Maior, que completava um
círculo de terras úberes à volta da Cidade. Os solos de menor capacidade de uso
situavam-se ao sul das Freguesias de Quintos e Salvada, Freguesias de Albernoa
e Trindade, estremando já com a estepe da Comarca de Ourique, e Santa Victória
e Mombeja, a oeste, bem como a já extinta Freguesia de Vilas Boas. A este
propósito diz-nos Albert Silbert:
“(…) Il est claire que le maximum de terres cultivées se
trouvait dans la banlieue de la ville, principalement à l’Est (Nossa Senhora
das Neves) et au Sud (Santa Clara de Louredo). Un peu plus à l’Est et au
Sud-Est (Baleizão-Salvada) les terres incultes étaient encore peu abondantes.
Elles se rencontrent surtout à Quintos et à Santa Vitória, c’est-à-dire, à
proximité du Guadiana, et vers l’Ouest, à une distance relativement faible des charnecas de São João de Negrilhos.
On arrive à une conclusion analogue en consultant les
notices de 1758. Il y a beaucoup de broussailles à Quintos, surtout au Sud de
la paroise. Il y en a beaucoup aussi à Trindade, Albernoa et Santa Vitória. Le
curé de Trindade explique par leur étendue la faiblesse des cultures et
l’importance de la chasse, qui fait vivre les pauvres. Celui de Santa Vitória
insiste sur la maigreur des productions: “car la paroisse est presque en entier
couverte de matos et de charneca. C’est une des plus misérables
du canton. Les habitants sont pauvres”.[28]
A grande riqueza agrícola do Concelho eram os cereais, muito
particularmente o trigo, seguido da cevada e centeio. Nas Memórias Paroquiais respeitantes ao Concelho de Beja, nos 24
registos alusivos às respectivas freguesias, encontramos 22 referências ao
trigo, citado sempre em primeiro lugar. Não o referem o Pároco da Freguesia de
Nossa Senhora das Neves, Luís Dias Bravo, que diz ser a freguesia “(…)abitada
de lavouras e culturas de vinhas e olivais, de que tem a mayor parte de vinho e azeite, que fas a cidade abundante destes géneros (…)”.[29] A área desta Freguesia,
confinante com a cidade de Beja, espraiava-se pelo Couto das Vinhas, um alfoz
de vinhas e olivais, culturas ricas que, no dizer do mesmo Pároco, faziam a
Cidade abundante destes géneros. Também o Pároco da Freguesia da Trindade não
nos refere o trigo. Como atrás afirmámos, esta Freguesia situava-se em solos de
fraca capacidade agrícola.
O cultivo da cevada
aparece-nos referenciado por 12 vezes, e quase sempre em segundo lugar. Apenas
por duas vezes o cultivo do centeio, mencionado por 8 vezes, nos surge
anteposto ao da cevada. A regra é, pois, pela ordem trigo, cevada e centeio,
deixando transparecer a importância relativa do seu cultivo. E por cinco vezes
se refere e algum centeio,
comprovando que este cereal, mais rústico e mais próprio de regiões de
montanha, ocupava no todo da produção cerealífera da região um posicionamento
subalterno.
Por vezes os párocos não
se coíbem mesmo de enfatizar as elevadas produções de cereal e o da Freguesia urbana de Santiago
Maior, Lourenço Alberto de Carvalho Moreira, na resposta ao quesito décimo
quinto, refere apenas e só o trigo, omitindo qualquer outro cereal, assim
subalternizando, de modo significativo, todas as restantes culturas.[30]
Outras culturas e produções são mencionadas: azeite (9
vezes), vinho (6 vezes), fruta (3 vezes), fava (2 vezes), feijão (2 vezes),
chícharo (2 vezes), legumes (4 vezes), grão (3 vezes), hortaliça (1 vez), milho
(1 vez), melão (1 vez), melancia (1 vez) e mel (2 vezes).
A produção de azeite é referenciada nas Freguesias de Cuba,
Nossa Senhora das Neves, Pedrógão, Salvada, Salvador, Santa Maria, São Brissos,
São João Baptista e Selmes; a produção de vinho relativamente às Freguesias de
Cuba, Nossa Senhora das Neves, Pedrógão, Salvador, São João Baptista e Selmes.
A tríade cereais, azeite
e vinho é, pois, dominante, visto ser esta uma região de características
ambientais mediterrânicas, que havia sido fortemente romanizada e cujo ordenamento
agrícola ocorrera séculos atrás.[31]
A criação de gado surge, significativamente, referenciada
naquelas freguesias onde é fraca a capacidade produtiva dos solos, mais aptos
para pastoreio, pelo que a pecuária representaria aí um suporte agroeconómico
importante. Tal é o caso das Freguesias de Ervidel,[32]
Marmelar,[33]
Mombeja,[34] e
Trindade.[35] É
também nestas freguesias, de solos incultos e fragosos, cobertos de densos
matorrais, que é mencionada a existência de caça em alguma abundância, pelo que
a actividade cinegética decerto constituiria um suplemento importante da dieta
alimentar das populações. Assim ocorria nas freguesias de Albernoa,[36]
Marmelar,[37]
Mombeja,[38] e
Trindade onde, como atrás dissemos, os moradores não apenas se sustentavam da
caça que matavam como também da que vendiam.
Compreendia,
pois, o Concelho pacense, no século XVIII, as seguintes aldeias e freguesias:[39] aldeias de Cuba, Pedrógão, Selmes,
Alfundão, Peroguarda, Ervidel, Nossa Senhora (ou Santa Maria) da Graça de
Baleizão, Mombeja e Ervidel; as freguesias urbanas de Salvador, São Tiago
Maior, São João Baptista, Santa Maria da Feira e as freguesias rurais de Santa
Clara do Louredo, Represa,[40]
Nossa Senhora das Neves, São Pedro de Pomares, Santa Catarina dos Quintos,
Nossa Senhora da Conceição da Salvada, Santíssima Trindade, Nossa Senhora da
Luz de Albernoa, Santa Vitória, São Brissos, São Matias, Santa Brígida de Marmelar
e Nossa Senhora da Conceição de Villas-Boas.[41]
Não nos foi possível
determinar os limites das extintas Freguesias de São Pedro de Pomares, Represa
e Vilas Boas, pela inexistência de fontes documentais e pelo facto de tais
Freguesias carecerem de núcleo urbano. Contudo, é possível delimitar a sua
relativa localização pela consulta dos cadernos da colecta do quatro e meio por cento. Assim,
consultando o caderno relativo ao ano de 1758 da Freguesia de São Pedro de
Pomares, verificamos que eram colectadas as herdades que ocupavam a parte norte
da actual Freguesia de Baleizão, confinante com as Freguesias de Selmes e
Pedrógão e que hoje integram o Concelho de Vidigueira. As herdades mantiveram
os mesmos topónimos até ao presente, realidade que ainda é constatável em todo
o termo pacense. Entre as herdades colectadas mencionadas no caderno da colecta
e a toponímia registada em Carta Militar,
identificámos as seguintes herdades: Herdade da Bácora, Herdade de Barbas de
Lebre, Herdade do Paço Inchado, Herdade da Chaminé, Herdade do Adernal, Herdade
da Rabadoa, Moinho da Fonte Santa e Moinho do Medo.[42] Era seu pároco em 1758 o
Padre Manuel Rodrigues Varela que nas Memórias
Paroquiais nos diz que na Quinta da Rabadoa existia uma capela cujo orago
era de São Luís, Bispo de Tolosa.[43] A matriz da Freguesia,
cujo orago era São Pedro, fica situada na área a que acima aludimos.[44]
Utilizando a mesma
metodologia relativamente à Freguesia de Represa identificámos a Herdade da
Almocreva, Herdade da Meia Légua, Herdade da Torre, Herdade das Represas,
Herdade da Algramassa, ou da Argamassa, Herdade do Touxeiro, Herdade do Monte
do Curral, Herdade da Misericórdia, Herdade da Lobeira, Herdade da Lobeira do
Meio e Herdade do Outeiro, todas elas sitas a oeste da cidade de Beja e que
integram hoje o agro da Freguesia urbana de Santiago Maior.[45]
Quanto à Freguesia de
Vilas Boas identificámos a Herdade dos Machados, Herdade do Monte do Outeiro,
Herdade do Paço, Herdade da Asseiceira, Herdade dos Farias, Herdade de Valbom e
Gontinhas, pelo que a área da Freguesia se situaria entre Mombeja, a sul,
Ferreira do Alentejo, a oeste, Alfundão, a norte, e Peroguarda a este.[46]
Usámos ainda a mesma
metodologia relativamente à Freguesia de Marmelar, outrora do Marmelal,
integrada no Concelho de Cuba aquando da sua criação, em 1782, e posteriormente
extinta e integrada na Freguesia de Pedrógão, e cujos limites também não nos
foi possível determinar com precisão devido à inexistência de fontes
documentais. Entre as herdades mencionadas no Livro do Quatro e Meio por Cento e as referenciadas na Carta Militar identificámos as
seguintes: Herdade da Casinha, Herdade do Pinel, Herdade do Olival, Herdade do
Monte da Ribeira, Herdade do Farrobo, Herdade do Barranco, Herdade do Sobroso,
Herdade da Ínsua, Herdade da Casa Branca do Outeiro, Herdade da Casa Branca do
Vale, Herdade da Corte Serrão, Moinho da Casa Branca e Moinho do Monte da
Ribeira, o que nos permite determinar, ainda que de forma imprecisa, os limites
da extinta Freguesia de Marmelar: Concelho de Portel, a norte, rio Guadiana a
este, Freguesia de Pedrógão a sul e Freguesia de Selmes, a oeste.
Estremava o Concelho de Beja, no período a que nos
reportamos, a norte, com os Concelhos de Vidigueira e Cuba, a noroeste, com o Concelho
de Ferreira do Alentejo e a oeste, com o Concelho de Aljustrel, totalizando a
área abrangida aproximadamente 1,573 Km2, o que nos dá bem ideia da
grandeza do território sob sua directa administração.[47]
É verdade que:
“Uma das grandes dificuldades do historiador local é a da
representação do traçado dos limites das terras e circunscrições. (…).
Raramente se encontram, nas cartas de doação ou de constituição de unidades
político-administrativas autónomas, indicações precisas quanto aos seus
limites; normalmente, remete-se
implicitamente para um conhecimento tradicional, que é pressuposto.
(…) Assumiu-se – o que é pacífico entre os autores – que a freguesia
constitui um elemento político-territorial muito estável que se manteve na
maior parte dos casos inalterada quanto à sua designação e limites desde os
primeiros séculos da nacionalidade (mas, nomeadamente, nos últimos quatrocentos
anos.)”[48]
Embora sendo construções factícias, as unidades territoriais
administrativas revelam, contudo, uma rigidez e uma inalterabilidade seculares
que se exprimem pela ideia de que território e jurisdição seriam realidades que
mutuamente se aderiam. Não nos parece pois demasiado ousado considerar as
unidades territoriais do passado pelos limites físicos do presente.[49]
Pinho Leal, retratando a realidade oitocentista, refere que
o Concelho de Beja tinha 17 freguesias, a saber: “Na cidade, S. João Baptista,
Santa Maria da Feira, S. Thiago e o Salvador. Fora da cidade, Albernoa,
Baleizão, Louredo, Nossa Senhora das Neves, Pomares, Quintos, Salvada,
Trindade, S. Brissos, Santa Victoria, Mombeja, Beringel[50] e S. Mathias”.[51]
Já Américo Costa, no seu Diccionario
Chorografico, remetendo para a realidade novecentista, refere que era o Concelho
bejense composto por 16 freguesias, mas na relação que redige contam-se 17.[52]
Erradamente, nesse rol figuram as mesmas que Pinho Leal tinha citado, quando
Pomares (S. Pedro de Pomares) já integrava a Freguesia de Baleizão. E nesta
mesma relação não figura a Freguesia de Cabeça Gorda, criada em 1901 por desanexação
da Freguesia da Salvada, quando a edição do primeiro volume do dito Diccionario é de data posterior, 1929.
O Padre Carvalho da Costa menciona ainda a Freguesia de São
Vicente como integrando o termo pacense, a par da aldeia de Cuba.[53]
Porque o orago de Cuba é São Vicente, julgamos residir aí o lapso do autor, ao
fraccionar uma mesma unidade territorial em duas, nomeando uma pelo orago e outra
pela designação toponímica.
Temos assim que entre o século XVIII e o tempo presente o
território concelhio bejense, deduzindo as freguesias mais excêntricas e que
hoje integram outros concelhos, como atrás aludimos, manteve uma constância
notável, sendo escassamente afectado pelas reformas administrativas liberais
que tanto haveriam de alterar o mapa concelhio nacional. De facto, as maiores
alterações de cariz administrativo no Concelho de Beja ocorreram em 1782, no
reinado de D. Maria I, quando Cuba foi desanexada e se transformou em concelho,
agregando as Freguesias de Selmes, Pedrógão, Marmelar e parte da Freguesia de
S. Matias, também estas desanexadas do território concelhio pacense.
Para a delimitação do espaço físico do Concelho bejense, na
época a que nos reportamos há, pois, que considerar as freguesias que
presentemente o integram, com a excepção de Beringel e Trigaches, mais as
freguesias de Selmes, Pedrógão, Cuba, Alfundão, Peroguarda e Ervidel. Era
donatário da vila de Beringel o Marquês de Minas e integrava no seu termo a
aldeia de Trigaches.[54]
Segundo o Padre Carvalho da Costa foi D. Pedro de Sousa, alcaide-mor de Beja e
de Alcácer e capitão-mor de Azamor, o seu primeiro senhor, por doação de D.
João III, com o título de Conde do Prado, pelos muitos serviços que lhe havia
feito em África e em muitas outras partes.[55]
Às freguesias urbanas de Salvador, Santa Maria, Santiago
Maior e São João Baptista correspondiam as terras de légua adentro, terras coimeiras onde se situavam os frutificados de
vinhas, olivais e pomares e onde a existência de água possibilitava a
existência de numerosas hortas:
“(…) Tem huma defeza, que chamão o Couto, com dous Adueiros,
e três Couteiros para guardarem o Azinhal, e Azambujal, e os Adueiros para
guarda dos gados, e potros dos Lavradores que lavrão nos frutificados dentro de
huma légua da Cidade, a qual em distancia de dous tiros de mosquete tem quatro
fontes de boa agua com seus chafarizes, e tanques, a saber, a fonte de
Sorotesta, a do Mouro, a do Bom Pinheiro, e a Fonte Santa”.[56]
Acrescentaremos ainda a fonte do Tanque dos Cavalos, a
sudeste do núcleo urbano e o Poço de Aljustrel, “(…) por ficar no caminho desta
villa, a pouco mais de tiro de espingarda (com balla) dos muros novos da
cidade, p.ª a parte de Oessudueste”.[57]
O Poço de Aljustrel foi, durante séculos, o principal ponto
abastecedor de água potável à cidade, pois que os poços sitos intramuros eram todos
de águas salobras.
Nas terras de légua
adentro, de solos úberes e agricultura rica, tinha a Câmara, no arco
temporal em análise, os seus bens de raiz: o Curral, o Couto das Vinhas e o Couto
da Adua, no qual os naturais apascentavam os seus animais de lavoura. Daqui
recolhia a Câmara parte dos seus proventos. Nas terras de légua adentro seria então bem mais actuante e sentida a
administração camarária, ao abrigo de numerosas posturas e regimentos que
regulavam as práticas agro-pastoris e a recolha de lenhas. Nelas realizava a
vereação as “corridas”, de periodicidade semanal, conforme a Ordenação, coimando todo aquele que em
falta fosse encontrado.
Nas terras ditas de légua
afora a Câmara pacense colhia ainda proventos da Renda do Machial,[58] do arrendamento das lezírias do
Guadiana, este pago em galinhas,[59] e de foros que possuía em numerosas
enfiteuses e propriedades de raiz.
Relevando
a riqueza agrícola da cidade de Beja e seu termo, diz-nos Carvalho da Costa que
os dízimos pagos ao arcebispado de Évora importavam em 30,000 moios de trigo,[60]
fora as mais sementes, e que a renda em mel, cabritos e porcos ascendia a mais
de 6,000 cruzados.[61]
FONTES E
BIBLIOGRAFIA
FONTES
MANUSCRITAS
Arquivo
Histórico Municipal de Beja
Livros do Quatro e Meio por Cento
da Câmara Municipal de Beja
1716 - Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0048
- Cx. 0049
1720 - Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0056
- Cx. 0050
1730 - Livro do Quatro e Meio por Cento,
PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0074 - Cx. 0052
1750 - Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0112
- Cx. 0057
1755 - Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0117
- Cx. 0058
1758 - Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0120
- Cx. 0059
Livro
das Posturas,
1738, PT/ADBJA/AL/CMBJA/B-A/002/0003, Cx. 0027
Instituto
dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo
Memórias Paroquiais de Beja e seu termo
Freguesia de Nossa
Senhora da Luz de Albernoa - vol. 42, n.º 7, p. 3
Freguesia de
Alfundão - vol. 2, n.º 58, p. 491 a 492
Freguesia de Nossa
Senhora da Graça de Baleizão - vol. 6, n.º 15, p. 101 a 102
Lugar da Cuba - vol. 12, n.º 473, p. 3303 a 3306
Freguesia de
Ervidel - vol. 13, n.º (E) 43, p. 329 a 330
Freguesia de Santa
Brígida de Marmelar - vol. 22, n.º 60, p. 403 a 408
Freguesia de
Mombeja - vol. 23, n.º 169, p. 1117 a 1120
Freguesia de Nossa
Senhora das Neves - vol. 25, n.º (N) 19, p. 115 a 116
Freguesia de
Pedrógão - vol. 28, n.º 103, p. 659 a 668
Freguesia de
Peroguarda - vol. 29, n.º 151a, p. 1082
Freguesia de Santa
Catarina dos Quintos - vol. 30, n.º (Q) 26, p. 141 a 144
Freguesia de Nossa
Senhora da Conceição da Salvada - vol. 33, n.º 32, p. 209 a
210
Freguesia do
Salvador, Beja - vol. 6, n.º 74, p. 521 a 540
Freguesia de Santa
Clara do Louredo - vol. 21, n.º 134, p. 1205 a 1208
Freguesia de Santa
Maria, Beja - vol. 6, n.º 74c, p. 558 a 562
Freguesia de Santa
Victória - vol. 39, n.º 155, p. 963 a 966
Freguesia de
Santiago, Beja – vol. 6, n.º 74a, p. 541 a 552
Freguesia de São
Brissos - vol. 7, n.º 68, p. 1221 a 1222
Freguesia de São
João Baptista, Beja - vol. 6, n.º 74b, p. 553 a 557
Freguesia de São
Matias - vol. 23, n.º 87, p. 585 a 586
Freguesia de São
Pedro de Pomares - vol. 29, n.º 205, p. 1415 a 1418
Freguesia de
Selmes - vol. 34, n.º 117, p. 885 a 888
Freguesia de
Santíssima Trindade – vol. 37, n.º 113, p. 1133 a 1134
Freguesia de Nossa
Senhora da Conceição de Vilas Boas - vol. 41, n.º 334, p.
2017 a 2020
DICIONÁRIOS, COROGRAFIAS E HISTÓRIAS DE PORTUGAL
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Disponível em http://purl.pt/13938.
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descripçam topográfica do famoso reyno de Portugal, com as notícias das
fundações das cidades, villas e lugares, Tomo I,
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LEAL, Pinho, Portugal
antigo e moderno - Dicionário geographico, estatístico, chorographico,
heráldico, archeológico, histórico, biographico e etymológico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal
e de grande número de aldeias, vol. I, Lisboa, Livraria Editora de Mattos
Moreira e Companhia, 1873.
LIMA, Luís Caetano de, Geographia Historica de todos os Estados
Soberanos da Europa, com as mudanças que houve nos seus dominios especialmente
pellos Tractados de Ultrech, Rastad, Baden […] e com as genealogias das Casas
Reinantes e outras mui principaes, Tomo II, Lisboa Ocidental, Officina de
Joseph Antonio da Sylva, impressor da Academia Real, 1736. Disponível em http://purl.pt/403/5.
SILVA, Antonio de
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Litteraria Fluminense, 1890.
INSTRUMENTOS METODOLÓGICOS
Instituto
Geográfico do Exército, Carta Militar de
Portugal, série M888, Folha 500.
Instituto
Geográfico do Exército, Carta Militar de
Portugal, série M888, Folha 509.
Instituto
Geográfico do Exército, Carta Militar de
Portugal, série M888, Folha 511.
Instituto
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Portugal, série M888, Folha 520.
Instituto
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Portugal, série M888, Folha 521.
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[1] Cf. José Saramago, Viagem
a Portugal, 13.ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 1997, p. 356.
[2] Cf. Gerardo Augusto Pery, Estatistica
Agricola do Districto de Beja, Parte I, Concelho de Beja, Lisboa, Imprensa
Nacional, 1883, p. 8.
[3] Cf. Orlando
Ribeiro, “Cidade” in Dicionário de História de Portugal, dir.
de Joel Serrão, Vol. I, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1971, p. 579.
[4] Cf. António Carvalho da Costa, Corografia
portuguesa e descripçam topográfica do famoso reyno de Portugal, com as
notícias das fundações das cidades, villas e lugares, Tomo II,
Lisboa, na Officina de Valentim da Costa Deslandes, 1708, p. 465. Disponível em
http://purl.pt/434.
[5] Atente-se na precisão geográfica
com que Carvalho da Costa localiza a Cidade de Beja. A passagem de uma
mentalidade qualitativa a quantitativa remonta ao século XVI, naquilo que se
pode considerar um processo de aritmetização do real. Cf. Ana Paula Menino
Avelar, Figurações da Alteridade na
cronística da Expansão, Lisboa, Universidade Aberta, 2003, pp. 31-36.
[6] Cf. Luís Caetano
de Lima, Geographia Historica de todos os
Estados Soberanos da Europa, com as mudanças que houve nos seus dominios
especialmente pellos Tractados de Ultrech, Rastad, Baden […] e com as
genealogias das Casas Reinantes e outras mui principaes, Tomo II, Lisboa
Ocidental, Officina de Joseph Antonio da Sylva, impressor da Academia Real,
1736, p. 244. Disponível em http://purl.pt/403/5.
[7] Cf. Luis Cardoso, Diccionario geográfico…, Tomo II, Lisboa, Regia Officina Sylviana,
e da Academia Real, 1747-1751, p 123. Disponível em http://purl.pt/13938.
[8] A edição da Corografia
Portuguesa de Carvalho da Costa está
datada de 1706-1712 e a do Diccionario
Geografico de Luis Cardoso está
datada de 1747-1751. A edição da Geografia Histórica de Luís Caetano de Lima
está datada de 1734-1736.
[9]Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 6, n.º 74, p.
521.
[10] Sendo mais exacto do que Carvalho
da Costa na determinação da latitude é-o menos na determinação da longitude,
ainda que Carvalho da Costa também seja inexacto nessa determinação. As
coordenadas da Cidade são: Latitude: 37º 50’ 31 N - Longitude: 7º 55’ 6 O.
O
conhecimento da longitude de um dado local só ficou resolvido em finais de 1761
com o cronómetro de John Harrison. Se a resolução das questões técnicas deste
problema surge apenas no século XVIII, os portugueses, contudo, já eram
detentores dos conhecimentos teóricos para a determinação da longitude no
período das descobertas. (Cf. Costa Canas, “Os Portugueses e a Determinação da
Longitude”, in Anais do Clube Militar
Naval, Vol. CXXV, Abril-Junho, 1995, p. 273. Disponível
em http://www.academia.edu/6821037/Os_Portugueses_e_a_determina%C3%A7%C3%A3o_da_longitude.
[11] Cf. Gerardo Augusto Pery, op. cit., p. 9.
[12] Cit. António Carvalho da Costa, op. cit., pp. 468-469.
[13] Cf. Luis Cardoso, op. cit., Tomo II, p. 128.
[14] Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 6, n.º 74, p.
532.
[15] Cf. ANTT, idem, vol. 21, n.º 134, p.1206.
[16] Cf. ANTT, idem, vol.
12, n.º 473, pp.3303 e 3305.
[17] Cf. ANTT, idem, vol. 22, n.º 60, p. 404.
[18] Cilhas de
colmeias: uma série, renque d’ellas. Cf. Antonio de Moraes Silva, Diccionario da Lingua Portugueza, Tomo I,
8.ª ed., Empreza Litteraria Fluminense, 1890, p. 465. Malhada ou colmeal seria
termo mais correcto. Por silha ou silhar se deve entender a lage de xisto ou o
ladrilho de barro cozido onde se apoia a colmeia.
[19] Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol.
42, n.º 7, p. 3. Ainda sobre a mesma Freguesia de Albernoa afirma o Padre Luís
Cardoso: “Os frutos, que os moradores recolhem em mayor abundancia são trigos.
Os gados que crião he de toda a casta, posto que não em grande quantidade pela
incapacidade do terreno; pois não tem terra limpa, mais que a que cultivão os
Lavradores; e tudo o mais são matos bravos, e crião-se nelles coelhos,
perdizes, e lebres, e alguns porcos javalis, e muitas cilhas de colmeas.” Cit.
Luís Cardoso, op. cit., Tomo I, p.
121.
[20] Cf. ANTT, idem, vol. 39, n.º
155, p. 965.
[21] Cf. ANTT, idem, vol. 37, n.º
113, p. 1133
[22] Cf. ANTT, idem, vol. 41, n.º
334, p. 2017.
[23] Cf. Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0048.
[24] Cf. idem, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0056.
[25] Cf. idem, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0074.
[26] Cf. idem, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0112.
[27] Cf. idem, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0117.
[28] Cit. Albert Silbert, op. cit., Vol. II, pp. 433-434.
[29] Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 25, n.º (N)
19, p. 116.
[30] Cf. ANTT, idem, vol. 6, n.º
74a, p. 545.
[31] O ordenamento agro-silvícola do
agro bejense processou-se naturalmente durante séculos, estando hoje em dia a
desaparecer os derradeiros vestígios da malha de centuriação que os Romanos nos legaram e que, à volta da urbe, eram
facilmente observáveis (valados, taludes, aterros e desaterros, etc.). Cf.
Manuel Lourenço Casteleiro de Goes, op.
cit., Tomo I, pp. 112 e segs.
[32] Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 13, n.º (E)
43, p. 330.
[33] Cf. ANTT, idem, vol. 22, n.º 60, p. 407.
[34] Cf. ANTT, idem, vol. 23, n.º 169, p. 1119.
[35] Cf. ANTT, idem, vol. 37, n.º 113, p. 1133.
[36] Cf. ANTT, idem, vol. 42, n.º 7, p. 3.
[37] Cf. ANTT, idem, vol. 22, n.º 60, p. 407.
[38] Cf. ANTT, idem, vol. 23, n.º 169, p. 1119
[39] Cuba constituir-se-á em
concelho por alvará régio de D. Maria I, datado de 18 de Dezembro de 1782;
Pedrógão e Selmes são hoje freguesias do Concelho da Vidigueira e Marmelar
integra a freguesia de Pedrógão; Alfundão e Peroguarda são freguesias do
Concelho de Ferreira do Alentejo e Ervidel é freguesia do Concelho de
Aljustrel; Beringel, hoje freguesia do Concelho de Beja, foi vila e sede de
concelho entre 1519 e 1839 e São Pedro de Pomares integra a freguesia de
Baleizão; a antiga freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Villas-Boas foi
incorporada na freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Ferreira do Alentejo.
(Cf. Manuel Lourenço Casteleiro de
Goes, Beja XX Séculos de História de uma
Cidade, Tomo I, Edição da Câmara
Municipal de Beja, 1988, p. 332.
[40] A Freguesia de Repreza,
referenciada nos Livros do Quatro e Meio
por Cento para efeitos fiscais, não é, contudo, objecto de qualquer
referência nas Memórias Paroquiais.
[41] Cf. José Silvestre Ribeiro, op.cit., pp. 61-62.
[42] Cf. Livro do Quatro e Meio por Cento, 1758 -
PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0120, fls. 97vº-100vº e Instituto Geográfico do
Exército, Carta Militar de Portugal,
série M888, Folha 511.
[43] Cf. ANTT, Memórias paroquiais, vol. 29, n.º 205, p. 1417.
[44] “Encontra-se situada na margem esquerda da ribeira de São Pedro,
afluente do Ribeiro de Odearce – sítio, na época, conhecido por Belmonte –
local solitário e ainda hoje quase descampado, defrontando um roqueiro, mas
pitoresco cabeço de emaranhado chaparral, despido de moradores, pois o casario
da capelania, sacristia e de romeiros, construídos a par da face sul da igreja,
encontra-se desabitado e em ruínas”. Cit. Túlio Espanca, Inventário
Artístico de Portugal – Distrito de Beja, Vol. XII, Lisboa, Academia Nacional
de Belas Artes, 1992, p. 222.
[45] Cf. Livro do Quatro e Meio por Cento, 1758 -
PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0120, fls. 101-102vº e Instituto Geográfico do
Exército, Carta Militar de Portugal,
série M888, Folha 521.
[46] Cf. idem, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0120,
fls. 95vº-97vº e Instituto Geográfico do Exército, Carta Militar de Portugal, série M888, Folhas 509 e 520.
[47] Integrando no actual concelho de Beja as
freguesias de Beringel e Trigaches e descontando as freguesias de Cuba, Pedrogão,
Selmes, Alfundão, Peroguarda, Ervidel e Nossa Senhora da Conceição de
Villas-Boas temos que a sua área é, no presente, de 1147 Km2, área
ainda assim considerável e que faz do município de Beja o 9.º a nível nacional.
[48] Cit. António Manuel Hespanha,
As Vésperas de Leviathan - Instituições e
Poder Político em Portugal - Séc. XVII, Coimbra, Livraria Almedina, 1994,
p. 55
[49] Cf. idem, ibidem, pp. 85-111.
[50] Beringel, que perdeu a valia
administrativa de concelho em 1839, é, na actualidade, freguesia do concelho de
Beja.
[51]
Cit. Pinho Leal, Portugal antigo e
moderno - Dicionário geographico, estatístico, chorographico, heráldico,
archeológico, histórico, biographico e etymológico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal
e de grande número de aldeias, vol. I, Lisboa, Livraria Editora de Mattos
Moreira e Companhia, 1873, p. 363.
[52] Cf. Américo Costa, Diccionario Chorografico de Portugal
Continental e Insular, vol. III, Porto, Livraria Civilização, 1932, p. 447.
[53]
Cf. António Carvalho da Costa, op cit., pp. 470-471.
[54] Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 7, n.º 8, p.
755.
[55]
Cf. António Carvalho da Costa, op.cit., p. 249.
[56]
Cit. idem, ibidem, p. 468.
[57] Cit.Félix Caetano da Silva, “História das antiguidades da Cidade de
Beja”, in Arquivo de Beja, Vol. V,
Fascs. I e II, 1948, pp. 199.
[58] Machial, amexial ou amechial: terras – herdades, matos e montados – situadas fora dos
coutos da cidade, em terras de légua
afora, utilizadas para o pascigo dos gados. Cf. Manuel Lourenço Casteleiro de Goes, op.
cit., p.305 e Livro das
Posturas, 1738, PT/ADBJA/AL/CMBJA/B-A/002/0003, fl. 94vº.
[59] Esta renda, chamada “Renda das galinhas”, ainda em 1824
rendia cerca de 160 bicos, pagos aos oficiais camarários, tendo sido cobrada
até 1837. Cf. Manuel Lourenço
Casteleiro de Goes, op. cit, p. 305.
[60] Moio, medida de capacidade; 6 alqueires
correspondiam a 1 saco e 60 a um moio. No Concelho de Beja o alqueire equivalia a 13,34 litros e o moio a 800,4 litros. Cf. Joaquim
Henriques Fradesso da Silveira, Mappas
das Medidas do Novo Systema Legal comparado com as antigas nos diversos
Concelhos do Reino e Ilhas, Lisboa, Imprensa Nacional, 1868, p. 26.
[61]
Cf. António Carvalho da Costa, op.
cit., pp. 468-469.
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