BEJA SETECENTISTA – O TERMO CONCELHIO

“Em pouco se chega a Beja. Lá no seu alto edificada (e aqui, nestas paragens rasas, falar de alturas não é nenhuma vertigem), a antiga Pax Julia romana não parece vir de tão longa antiguidade”.[1] É esta a imagem marcante da Cidade de Beja; na planície chã alveja a Cidade numa proeminência que, se em pouco sobreleva a campina circundante, distingue-a e salienta-a. E essa imagem tanto a colhemos na descrição de feição literária de Saramago como em obra de cariz científico. Gerardo Pery no-lo diz: “O ponto culminante do plan’alto é justamente aquelle em que se acha edificada a cidade de Beja, que da sua altitude de 282 metros domina todo o concelho e regiões circunvizinhas. (…) Sob o ponto de vista orographico o concelho apresenta em geral uma sucessão de planuras, cujos níveis vão gradualmente descendo em todas as direcções, a partir do ponto culminante, Beja”.[2] Em Portugal quase não há cidades de planície. E se a função defensiva determinou a escolha da maioria dos sítios urbanos é quase sempre o lugar alto e escarpado o germe do núcleo urbano que aí procurou protecção e refúgio. A cidade que de modo mais impressionante revelou esta preferência pelos sítios de oppida foi, porventura, Beja, apinhada em torno do castelo, no cimo de um outeiro que domina a planície circundante.[3]

Perscrutemos o olhar dos corógrafos setecentistas sobre a mesma realidade. Carvalho da Costa diz-nos que “Na latitud de 37. graos, 56. minutos, & na longitude de 13. graos, 18. minutos, quatro legoas ao Noroeste da Villa de Serpa, & onze ao Sudueste da Cidade de Evora, no plano de huma imminencia, que se levanta em pouca desigualdade ao meyo de suas campinas, está situada a nobre, & antiga Cidade de Beja em figura circular, cercada de fortes muros com quarenta torres, & soberbo Castello (…).[4]-[5]De forma menos precisa, assim nos faz a descrição da cidade Luís Caetano de Lima: “Nove legoas ao Sudoeste da Cidade de Evora, e pouco mais de duas do rio Guadiana se descobre a Cidade de Béja em hum sitio alguma cousa levantado no meyo de campinas muy férteis, e aprazíveis.(…)”.[6] Do mesmo modo caracteriza a localização da urbe pacense o Padre Luís Cardoso, quase ipsis verbis com a descrição de Carvalho da Costa, revelando uma óbvia contaminação entre os dois textos, sendo o texto de Luís Cardoso posterior ao de Carvalho da Costa.[7]-[8]

Também o padre da Freguesia urbana pacense do Salvador, nas Memorias Paroquiais, nos oferece uma descrição consonante com as anteriores. António Guerreiro de Aboim, Prior da Igreja Colegiada do Salvador diz-nos que a Cidade “Está fundada em meyo de huma iminência de terra cham que com pequena desigualdade se levanta em suas campinas sendo sua figura circular (…). Diz-nos mais que “(…) esta Cidade de Beja hé situada na Provincia de Alemtejo, em trinta e sete graos, e cinquenta minutos de latitude, e dezesete minutos de longitude, vinte e cinco legoas distante da, famosa, e sempre leal Cidade de Lisboa Metropole do Mundo, e capital do Reyno, he onze legoas ao sudueste distante da Cidade de Evora Metropole do seu Arcebispado”.[9]-[10]

Segundo Gerardo Pery, no seu trabalho publicado em 1883, existiam na área do Concelho seis variedades de solo argiloso proveniente de dioritos, pórfiros, rochas metamórficas anfibólicas, rochas metamórficas feldspáticas, de xistos argilosos e de aluviões modernos. O solo proveniente de dioritos é o mais rico e fértil. Os denominados barros de Beja são solos dioríticos de qualidade ubérrima. Classifica Pery os solos mais férteis como terras fortes, que cobrem não apenas os campos de Beja, mas também faixas nas Freguesias de Salvada, Beringel e São Brissos. Mas estes solos ocupam apenas cerca de um terço da superfície concelhia; as terras medianas, de menor aptidão agrícola, ocupam um pouco mais de um sexto da área do Concelho e as terras fracas, por sua vez, ocupam mais de metade da mesma área.[11] Apenas um terço da área concelhia é de solos úberes, condição suficiente, contudo, para que a Cidade fosse reputada como centro de uma região cerealífera de excelência e louvada pela sua extraordinária riqueza agrícola.

Remontando ao século XVIII, refere-nos o Padre Carvalho da Costa: “He esta Cidade abundante de paõ, cevada, bom azeite, generosos vinhos, & frutos, & tem cento & cinquenta hortas, muitos gados, & todo o genero de caça; tem minas de ouro e prata, com três mil cento & dezoito herdades, em que entraõ as da Aldea da Cuba, & seu termo. (…) He esta Cidade mui celebrada das nações estrangeiras por sua fertilidade (…): ve-se a fertilidade na abundancia dos frutos, porque produz todos aquelles, de que necessita a vida humana”.[12] O Padre Luís Cardoso dir-nos-á o mesmo, ipsis verbis.[13]

Da fertilidade dos solos e da abundância dos frutos produzidos nos dão também conta os padres das paróquias do termo concelhio, nas suas respostas ao quesito décimo quinto do questionário que lhes foi enviado em 1758. E se algumas freguesias ocupavam solos úberes, outras delimitavam solos de fraca aptidão agrícola, o que desde logo determinava uma maior escassez de moradores e menor colecta fiscal.

António Guerreiro de Aboim, Prior da Igreja Colegiada do Salvador, anteriormente citado, diz-nos que “Os frutos que de seus campos recolhem os moradores são abundante trigo, copioso azeite, e vinho, legumes, mel, e algum linho: nas suas hortas, e quintas muita e excelente ortaliça de toda a casta, bastantes frutas; e tudo o que as campinas desta terra produzem hé de admirável gosto, e sabor”.[14] A pitoresca imagem que o Prior nos transmite reflecte a realidade do termo da Freguesia do Salvador, que se espraiava pelos férteis campos que rodeiam a urbe. O Padre Bento da Costa, Cura da Freguesia de Santa Clara de Louredo, limítrofe da Cidade, comenta que “Nesta freguesia a maior fabricação dos moradores della he semiarem nas suas terras muitos trigos bastante cevada, e algũ centeio, de que se colhem boas novidades segundo os anos, que Deus manda. Ha tambem varias ortas donde se cultivam ademiraveys ortalisas, e teem arvoredos que dão muntas frutas, e teem em si nascedios de abundantes agoas (…)”.[15] São as terras desta Freguesia de úbere qualidade e com muitos locais com água de pé, origem de hortas e quintas, realidade ainda hoje patente.

Quanto a Cuba, distante para norte cerca de 3 léguas, de terras fartas e de notável aptidão vinícola, o Prior Manuel da Fonseca Baptista afirma que “(…) tem muitos ferrejaes, e terras de semear pam, e inumeráveis vinhas, algumas hortas e fazendas he abundantíssima de agoas (…). Os fructos que os seus habitadores recolhem em mayor abundancia são trigo, muyto vinho, e algum azeyte.[16]

Já de Marmelar, Freguesia extinta e que hoje integra o Concelho de Vidigueira, o Padre José Lopes Gago refere que “Os frutos que produz esta freguesia he trigo, cevada e centeyo, tudo em muita abundancia quando são os annos invernosos a varge tambem produz muito feyjam fradinho, e alguma fruta pouco gostosa”.[17]

Mas o panorama nem sempre é tão ridente. Outra bem diferente é a realidade que nos é descrita sobre freguesias mais periféricas do agro concelhio. De Albernoa, Freguesia de terras de fraca aptidão agrícola, de magro solo arável, ditas popularmente terras galegas, Pery denominou-as de terras fracas, escassamente povoada, confinante com a Comarca de Campo de Ourique, singularizada pela aridez da estepe, nos diz o seu Pároco que “O vasto, e inculto terreno desta Parochia he regado pelas tres ribeiras = Louriçaes, Cobres e Terges = que fertilizão os campos e regalão os moradores com bons peixes: as principais produçoes são trigo, e mel: nos montes, e charnecas pastão inumeráveis coelhos, lebres, perdizes, e javalis; mas tãobem se abrigão muitas cilhas de colmêas”.[18]-[19]

Relativamente à Freguesia de Santa Victória informa-nos o Pároco Simão Pires Calado que “Os frutos que se colhem nesta freguesia são trigo sevada, e algum senteyo, e estes em pouca abundancia, por ser esta freguesia quasi toda de matos, e charneca e das mais roins deste termo e por esta rezão são seus lavradores pobres”.[20]

Quanto à Freguesia da Trindade o Pároco Bernardo João da Cunha revela-nos que “Os moradores desta freguesia sustentanse a mayor parte do anno de suas lavouras, e ainda que lemitadas por estar esta freguesia situada entre mattos e os pobres se sustentão de caça que matão e vendem e tambem de muito carvão que fazem de raízes que tirão debaixo da terra.[21]

Finalmente, o Prior da paróquia de Vilas Boas, Diogo Lourenço Sanches, afirma que “Os frutos que recolhem de mayor vulto os moradores desta freguesia são os das searas de trigo, sebem que ainda neste he das mais estéreis do termo, por serem as suas terras montoosas, e fragosas”.[22]

Tendo em atenção o Quadro 1, que nos representa a colecta fiscal do quatro e meio por cento em cinco anos distintos, espaçados no tempo, por forma a ser a amostragem mais ampla de modo a contemplar o evoluir da conjuntura económica ao longo da primeira metade do século XVIII, deparamo-nos com valores díspares que vão de 8,550 réis colectados na Freguesia da Trindade, no ano de 1750, até 170,170 réis colectados na Freguesia de Baleizão, no ano de 1720. A área de uma e outra freguesia não apresentava valores muito diferentes. Há ainda que considerar que a Freguesia de São Pedro de Pomares, hoje inserida na Freguesia de Baleizão, ocupava a parte norte da dita Freguesia, confinante com a Freguesia de Pedrógão, pelo que a área de implantação da Freguesia de Baleizão seria menor do que a verificada na actualidade.

Quadro 1 - Valores da colecta do quatro e meio por cento (em réis)

 

ANOS

 

FREGUESIAS

1716[23]

1720[24]

1730[25]

1750[26]

1755[27]

Média

Freguesia de Albernoa

13,770

16,370

16,700

10,030

10,140

13,402

Freguesia de Alfundão

31,040

29,610

30,890

30,590

30,660

30,558

Freguesia de Baleizão

157,730

170,170

140,380

158,570

146,520

154,674

Freguesia e Limite de Cuba

98,700

98,830

119,980

139,770

106,005

112,657

Freguesia de Ervidel

17,300

20,310

17,270

22,920

17,040

18,968

Freguesia de Marmelar

28,910

27,540

18,270

37,915

27,780

28,083

Freguesias de Mombeja e Vilas Boas

41,130

38,870

-------

--------

--------

40,000

Freguesia de Mombeja

--------

--------

30,920

25,760

21,920

26,200

Freguesia de Nossa Senhora das Neves

70,150

54,970.

67,760

72,290

71,940

67,422

Freguesia de Pedrógão

34,090

43,130

49,440

45,445

53,350

45,091

Freguesia de Peroguarda

22,920

25,760

28,130

21,520

26,690

25,004

Freguesia de Quintos

100,310

105,980

112,150

99,130

90,610

101,636

Freguesia da Represa

39,890

41,120

28,600

29,650

27,020

33,256

Freguesia da Salvada

45,430

46,280

29,340

43,870

42,950

41,574

Freguesia do Salvador - Beja

58,290

60,280

60,340

34,390

23,860

47,432

Freguesia de Santa Clara de Louredo

34,440

37,000

40,480

40,070

27,850

35,968

Freguesia de Santa Maria - Beja

91,060

87,800

118,810

66,020

46,175

81,973

Freguesia de Santa Victória

31,370

31,510

38,120

33,570

24,710

31,856

Freguesia de São Tiago - Beja

63,380

60,050

82,860

60,250

38,970

61,102

Freguesia de São Brissos

54,090

53,700

40,350

39,900

29,310

43,470

Freguesia de São João de Dentro - Beja

120,660

125,630

93,250

66,610

52,430

91,716

Freguesia de São João de Fora - Beja

66,560

65,345

90.900

54,460

35,460

62,545

Freguesia de São Matias

41,930

47,050

33,550

50,740

57,400

46,134

Freguesia de São Pedro de Pomares

45,140

46,830

32,600

41,160

42,510

41,648

Freguesia de Selmes

104,480

99,820

101,240

101,360

99,615

101,303

Freguesia da Trindade

21,590

22,130

21,390

13,920

8,550

17,516

Freguesia de Vilas Boas

--------

--------

12,210

11,040

13,730

12,326

 

Tendo em conta a colecta fiscal do quatro e meio por cento realizada em cada uma das freguesias rurais podemos dividi-las em freguesias de colecta baixa, <30,000 réis, colecta mediana, >30,000 réis e <60,000 réis, colecta elevada, >60,000 a <90,000 e colecta muito elevada, >90,000 réis. As Freguesias de maior colecta fiscal eram as de Baleizão, Quintos, Selmes e Cuba e seu limite, cujas médias, nos 5 anos analisados, superavam os 100.000 réis.

Quadro 2 – Colecta Fiscal

Colecta Fiscal

Freguesias

Colecta Fiscal Baixa

<30,000 réis

Albernoa, Ervidel, Marmelar, Mombeja, Peroguarda, Trindade e Vilas Boas

Colecta Fiscal Mediana

>30,000 réis e <60,000 réis

Alfundão, Pedrógão, Represa, Salvada, Santa Clara de Louredo, Santa Victória, São Brissos, São Matias e São Pedro de Pomares

Colecta Fiscal Elevada

>60,000 réis e <90,000 réis

 

Nossa Senhora das Neves

Colecta Fiscal Muito Elevada

>90,000 réis

 

Baleizão, Cuba, Quintos e Selmes

 

A riqueza do produto agrícola por freguesia, reflectida nos montantes da colecta fiscal, pois que o imposto do quatro e meio por cento incidia sobre todo o tipo de rendimentos, era consequência de as áreas de implantação das mesmas freguesias se situarem em solos de maior ou menor produtividade.

As terras mais produtivas achavam-se nas Freguesias de Cuba e São Matias, a norte de Beja, São Brissos, a noroeste, Santa Clara de Louredo, a sul, e Salvada, a sudeste, Nossa Senhora das Neves e Baleizão, a este, Quintos, a sudeste, a declinar um tanto para leste, e o agro das Freguesias urbanas de Salvador, Santa Maria, São João Baptista e Santiago Maior, que completava um círculo de terras úberes à volta da Cidade. Os solos de menor capacidade de uso situavam-se ao sul das Freguesias de Quintos e Salvada, Freguesias de Albernoa e Trindade, estremando já com a estepe da Comarca de Ourique, e Santa Victória e Mombeja, a oeste, bem como a já extinta Freguesia de Vilas Boas. A este propósito diz-nos Albert Silbert:

“(…) Il est claire que le maximum de terres cultivées se trouvait dans la banlieue de la ville, principalement à l’Est (Nossa Senhora das Neves) et au Sud (Santa Clara de Louredo). Un peu plus à l’Est et au Sud-Est (Baleizão-Salvada) les terres incultes étaient encore peu abondantes. Elles se rencontrent surtout à Quintos et à Santa Vitória, c’est-à-dire, à proximité du Guadiana, et vers l’Ouest, à une distance relativement faible des charnecas de São João de Negrilhos.

On arrive à une conclusion analogue en consultant les notices de 1758. Il y a beaucoup de broussailles à Quintos, surtout au Sud de la paroise. Il y en a beaucoup aussi à Trindade, Albernoa et Santa Vitória. Le curé de Trindade explique par leur étendue la faiblesse des cultures et l’importance de la chasse, qui fait vivre les pauvres. Celui de Santa Vitória insiste sur la maigreur des productions: “car la paroisse est presque en entier couverte de matos et de charneca. C’est une des plus misérables du canton. Les habitants sont pauvres”.[28]

A grande riqueza agrícola do Concelho eram os cereais, muito particularmente o trigo, seguido da cevada e centeio. Nas Memórias Paroquiais respeitantes ao Concelho de Beja, nos 24 registos alusivos às respectivas freguesias, encontramos 22 referências ao trigo, citado sempre em primeiro lugar. Não o referem o Pároco da Freguesia de Nossa Senhora das Neves, Luís Dias Bravo, que diz ser a freguesia “(…)abitada de lavouras e culturas de vinhas e olivais, de que tem a mayor parte de vinho e azeite, que fas a cidade abundante destes géneros (…)”.[29] A área desta Freguesia, confinante com a cidade de Beja, espraiava-se pelo Couto das Vinhas, um alfoz de vinhas e olivais, culturas ricas que, no dizer do mesmo Pároco, faziam a Cidade abundante destes géneros. Também o Pároco da Freguesia da Trindade não nos refere o trigo. Como atrás afirmámos, esta Freguesia situava-se em solos de fraca capacidade agrícola.

O cultivo da cevada aparece-nos referenciado por 12 vezes, e quase sempre em segundo lugar. Apenas por duas vezes o cultivo do centeio, mencionado por 8 vezes, nos surge anteposto ao da cevada. A regra é, pois, pela ordem trigo, cevada e centeio, deixando transparecer a importância relativa do seu cultivo. E por cinco vezes se refere e algum centeio, comprovando que este cereal, mais rústico e mais próprio de regiões de montanha, ocupava no todo da produção cerealífera da região um posicionamento subalterno.

Por vezes os párocos não se coíbem mesmo de enfatizar as elevadas produções de cereal e o da Freguesia urbana de Santiago Maior, Lourenço Alberto de Carvalho Moreira, na resposta ao quesito décimo quinto, refere apenas e só o trigo, omitindo qualquer outro cereal, assim subalternizando, de modo significativo, todas as restantes culturas.[30]

Outras culturas e produções são mencionadas: azeite (9 vezes), vinho (6 vezes), fruta (3 vezes), fava (2 vezes), feijão (2 vezes), chícharo (2 vezes), legumes (4 vezes), grão (3 vezes), hortaliça (1 vez), milho (1 vez), melão (1 vez), melancia (1 vez) e mel (2 vezes).

A produção de azeite é referenciada nas Freguesias de Cuba, Nossa Senhora das Neves, Pedrógão, Salvada, Salvador, Santa Maria, São Brissos, São João Baptista e Selmes; a produção de vinho relativamente às Freguesias de Cuba, Nossa Senhora das Neves, Pedrógão, Salvador, São João Baptista e Selmes.

A tríade cereais, azeite e vinho é, pois, dominante, visto ser esta uma região de características ambientais mediterrânicas, que havia sido fortemente romanizada e cujo ordenamento agrícola ocorrera séculos atrás.[31]

A criação de gado surge, significativamente, referenciada naquelas freguesias onde é fraca a capacidade produtiva dos solos, mais aptos para pastoreio, pelo que a pecuária representaria aí um suporte agroeconómico importante. Tal é o caso das Freguesias de Ervidel,[32] Marmelar,[33] Mombeja,[34] e Trindade.[35] É também nestas freguesias, de solos incultos e fragosos, cobertos de densos matorrais, que é mencionada a existência de caça em alguma abundância, pelo que a actividade cinegética decerto constituiria um suplemento importante da dieta alimentar das populações. Assim ocorria nas freguesias de Albernoa,[36] Marmelar,[37] Mombeja,[38] e Trindade onde, como atrás dissemos, os moradores não apenas se sustentavam da caça que matavam como também da que vendiam.

Compreendia, pois, o Concelho pacense, no século XVIII, as seguintes aldeias e freguesias:[39] aldeias de Cuba, Pedrógão, Selmes, Alfundão, Peroguarda, Ervidel, Nossa Senhora (ou Santa Maria) da Graça de Baleizão, Mombeja e Ervidel; as freguesias urbanas de Salvador, São Tiago Maior, São João Baptista, Santa Maria da Feira e as freguesias rurais de Santa Clara do Louredo, Represa,[40] Nossa Senhora das Neves, São Pedro de Pomares, Santa Catarina dos Quintos, Nossa Senhora da Conceição da Salvada, Santíssima Trindade, Nossa Senhora da Luz de Albernoa, Santa Vitória, São Brissos, São Matias, Santa Brígida de Marmelar e Nossa Senhora da Conceição de Villas-Boas.[41]

Não nos foi possível determinar os limites das extintas Freguesias de São Pedro de Pomares, Represa e Vilas Boas, pela inexistência de fontes documentais e pelo facto de tais Freguesias carecerem de núcleo urbano. Contudo, é possível delimitar a sua relativa localização pela consulta dos cadernos da colecta do quatro e meio por cento. Assim, consultando o caderno relativo ao ano de 1758 da Freguesia de São Pedro de Pomares, verificamos que eram colectadas as herdades que ocupavam a parte norte da actual Freguesia de Baleizão, confinante com as Freguesias de Selmes e Pedrógão e que hoje integram o Concelho de Vidigueira. As herdades mantiveram os mesmos topónimos até ao presente, realidade que ainda é constatável em todo o termo pacense. Entre as herdades colectadas mencionadas no caderno da colecta e a toponímia registada em Carta Militar, identificámos as seguintes herdades: Herdade da Bácora, Herdade de Barbas de Lebre, Herdade do Paço Inchado, Herdade da Chaminé, Herdade do Adernal, Herdade da Rabadoa, Moinho da Fonte Santa e Moinho do Medo.[42] Era seu pároco em 1758 o Padre Manuel Rodrigues Varela que nas Memórias Paroquiais nos diz que na Quinta da Rabadoa existia uma capela cujo orago era de São Luís, Bispo de Tolosa.[43] A matriz da Freguesia, cujo orago era São Pedro, fica situada na área a que acima aludimos.[44]

Utilizando a mesma metodologia relativamente à Freguesia de Represa identificámos a Herdade da Almocreva, Herdade da Meia Légua, Herdade da Torre, Herdade das Represas, Herdade da Algramassa, ou da Argamassa, Herdade do Touxeiro, Herdade do Monte do Curral, Herdade da Misericórdia, Herdade da Lobeira, Herdade da Lobeira do Meio e Herdade do Outeiro, todas elas sitas a oeste da cidade de Beja e que integram hoje o agro da Freguesia urbana de Santiago Maior.[45]

Quanto à Freguesia de Vilas Boas identificámos a Herdade dos Machados, Herdade do Monte do Outeiro, Herdade do Paço, Herdade da Asseiceira, Herdade dos Farias, Herdade de Valbom e Gontinhas, pelo que a área da Freguesia se situaria entre Mombeja, a sul, Ferreira do Alentejo, a oeste, Alfundão, a norte, e Peroguarda a este.[46]

Usámos ainda a mesma metodologia relativamente à Freguesia de Marmelar, outrora do Marmelal, integrada no Concelho de Cuba aquando da sua criação, em 1782, e posteriormente extinta e integrada na Freguesia de Pedrógão, e cujos limites também não nos foi possível determinar com precisão devido à inexistência de fontes documentais. Entre as herdades mencionadas no Livro do Quatro e Meio por Cento e as referenciadas na Carta Militar identificámos as seguintes: Herdade da Casinha, Herdade do Pinel, Herdade do Olival, Herdade do Monte da Ribeira, Herdade do Farrobo, Herdade do Barranco, Herdade do Sobroso, Herdade da Ínsua, Herdade da Casa Branca do Outeiro, Herdade da Casa Branca do Vale, Herdade da Corte Serrão, Moinho da Casa Branca e Moinho do Monte da Ribeira, o que nos permite determinar, ainda que de forma imprecisa, os limites da extinta Freguesia de Marmelar: Concelho de Portel, a norte, rio Guadiana a este, Freguesia de Pedrógão a sul e Freguesia de Selmes, a oeste.

Estremava o Concelho de Beja, no período a que nos reportamos, a norte, com os Concelhos de Vidigueira e Cuba, a noroeste, com o Concelho de Ferreira do Alentejo e a oeste, com o Concelho de Aljustrel, totalizando a área abrangida aproximadamente 1,573 Km2, o que nos dá bem ideia da grandeza do território sob sua directa administração.[47]

É verdade que:

“Uma das grandes dificuldades do historiador local é a da representação do traçado dos limites das terras e circunscrições. (…). Raramente se encontram, nas cartas de doação ou de constituição de unidades político-administrativas autónomas, indicações precisas quanto aos seus limites; normalmente, remete-se implicitamente para um conhecimento tradicional, que é pressuposto.

(…) Assumiu-se – o que é pacífico entre os autores – que a freguesia constitui um elemento político-territorial muito estável que se manteve na maior parte dos casos inalterada quanto à sua designação e limites desde os primeiros séculos da nacionalidade (mas, nomeadamente, nos últimos quatrocentos anos.)”[48]

Embora sendo construções factícias, as unidades territoriais administrativas revelam, contudo, uma rigidez e uma inalterabilidade seculares que se exprimem pela ideia de que território e jurisdição seriam realidades que mutuamente se aderiam. Não nos parece pois demasiado ousado considerar as unidades territoriais do passado pelos limites físicos do presente.[49]

Pinho Leal, retratando a realidade oitocentista, refere que o Concelho de Beja tinha 17 freguesias, a saber: “Na cidade, S. João Baptista, Santa Maria da Feira, S. Thiago e o Salvador. Fora da cidade, Albernoa, Baleizão, Louredo, Nossa Senhora das Neves, Pomares, Quintos, Salvada, Trindade, S. Brissos, Santa Victoria, Mombeja, Beringel[50] e S. Mathias”.[51]

Já Américo Costa, no seu Diccionario Chorografico, remetendo para a realidade novecentista, refere que era o Concelho bejense composto por 16 freguesias, mas na relação que redige contam-se 17.[52] Erradamente, nesse rol figuram as mesmas que Pinho Leal tinha citado, quando Pomares (S. Pedro de Pomares) já integrava a Freguesia de Baleizão. E nesta mesma relação não figura a Freguesia de Cabeça Gorda, criada em 1901 por desanexação da Freguesia da Salvada, quando a edição do primeiro volume do dito Diccionario é de data posterior, 1929.

O Padre Carvalho da Costa menciona ainda a Freguesia de São Vicente como integrando o termo pacense, a par da aldeia de Cuba.[53] Porque o orago de Cuba é São Vicente, julgamos residir aí o lapso do autor, ao fraccionar uma mesma unidade territorial em duas, nomeando uma pelo orago e outra pela designação toponímica.

Temos assim que entre o século XVIII e o tempo presente o território concelhio bejense, deduzindo as freguesias mais excêntricas e que hoje integram outros concelhos, como atrás aludimos, manteve uma constância notável, sendo escassamente afectado pelas reformas administrativas liberais que tanto haveriam de alterar o mapa concelhio nacional. De facto, as maiores alterações de cariz administrativo no Concelho de Beja ocorreram em 1782, no reinado de D. Maria I, quando Cuba foi desanexada e se transformou em concelho, agregando as Freguesias de Selmes, Pedrógão, Marmelar e parte da Freguesia de S. Matias, também estas desanexadas do território concelhio pacense.

Para a delimitação do espaço físico do Concelho bejense, na época a que nos reportamos há, pois, que considerar as freguesias que presentemente o integram, com a excepção de Beringel e Trigaches, mais as freguesias de Selmes, Pedrógão, Cuba, Alfundão, Peroguarda e Ervidel. Era donatário da vila de Beringel o Marquês de Minas e integrava no seu termo a aldeia de Trigaches.[54] Segundo o Padre Carvalho da Costa foi D. Pedro de Sousa, alcaide-mor de Beja e de Alcácer e capitão-mor de Azamor, o seu primeiro senhor, por doação de D. João III, com o título de Conde do Prado, pelos muitos serviços que lhe havia feito em África e em muitas outras partes.[55]

Às freguesias urbanas de Salvador, Santa Maria, Santiago Maior e São João Baptista correspondiam as terras de légua adentro, terras coimeiras onde se situavam os frutificados de vinhas, olivais e pomares e onde a existência de água possibilitava a existência de numerosas hortas:

“(…) Tem huma defeza, que chamão o Couto, com dous Adueiros, e três Couteiros para guardarem o Azinhal, e Azambujal, e os Adueiros para guarda dos gados, e potros dos Lavradores que lavrão nos frutificados dentro de huma légua da Cidade, a qual em distancia de dous tiros de mosquete tem quatro fontes de boa agua com seus chafarizes, e tanques, a saber, a fonte de Sorotesta, a do Mouro, a do Bom Pinheiro, e a Fonte Santa”.[56]

Acrescentaremos ainda a fonte do Tanque dos Cavalos, a sudeste do núcleo urbano e o Poço de Aljustrel, “(…) por ficar no caminho desta villa, a pouco mais de tiro de espingarda (com balla) dos muros novos da cidade, p.ª a parte de Oessudueste”.[57]

O Poço de Aljustrel foi, durante séculos, o principal ponto abastecedor de água potável à cidade, pois que os poços sitos intramuros eram todos de águas salobras.

Nas terras de légua adentro, de solos úberes e agricultura rica, tinha a Câmara, no arco temporal em análise, os seus bens de raiz: o Curral, o Couto das Vinhas e o Couto da Adua, no qual os naturais apascentavam os seus animais de lavoura. Daqui recolhia a Câmara parte dos seus proventos. Nas terras de légua adentro seria então bem mais actuante e sentida a administração camarária, ao abrigo de numerosas posturas e regimentos que regulavam as práticas agro-pastoris e a recolha de lenhas. Nelas realizava a vereação as “corridas”, de periodicidade semanal, conforme a Ordenação, coimando todo aquele que em falta fosse encontrado.

Nas terras ditas de légua afora a Câmara pacense colhia ainda proventos da Renda do Machial,[58] do arrendamento das lezírias do Guadiana, este pago em galinhas,[59] e de foros que possuía em numerosas enfiteuses e propriedades de raiz.

Relevando a riqueza agrícola da cidade de Beja e seu termo, diz-nos Carvalho da Costa que os dízimos pagos ao arcebispado de Évora importavam em 30,000 moios de trigo,[60] fora as mais sementes, e que a renda em mel, cabritos e porcos ascendia a mais de 6,000 cruzados.[61]

 

 

FONTES E BIBLIOGRAFIA

FONTES MANUSCRITAS

Arquivo Histórico Municipal de Beja

Livros do Quatro e Meio por Cento da Câmara Municipal de Beja

1716 - Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0048 - Cx. 0049

1720 - Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0056 - Cx. 0050

1730 - Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0074 - Cx. 0052

1750 - Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0112 - Cx. 0057

1755 - Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0117 - Cx. 0058

1758 - Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0120 - Cx. 0059

Livro das Posturas, 1738, PT/ADBJA/AL/CMBJA/B-A/002/0003, Cx. 0027

 

Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo

Memórias Paroquiais de Beja e seu termo

Freguesia de Nossa Senhora da Luz de Albernoa - vol. 42, n.º 7, p. 3

Freguesia de Alfundão - vol. 2, n.º 58, p. 491 a 492

Freguesia de Nossa Senhora da Graça de Baleizão - vol. 6, n.º 15, p. 101 a 102

Lugar da Cuba - vol. 12, n.º 473, p. 3303 a 3306

Freguesia de Ervidel - vol. 13, n.º (E) 43, p. 329 a 330

Freguesia de Santa Brígida de Marmelar - vol. 22, n.º 60, p. 403 a 408

Freguesia de Mombeja - vol. 23, n.º 169, p. 1117 a 1120

Freguesia de Nossa Senhora das Neves - vol. 25, n.º (N) 19, p. 115 a 116

Freguesia de Pedrógão - vol. 28, n.º 103, p. 659 a 668

Freguesia de Peroguarda - vol. 29, n.º 151a, p. 1082

Freguesia de Santa Catarina dos Quintos - vol. 30, n.º (Q) 26, p. 141 a 144

Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Salvada - vol. 33, n.º 32, p. 209 a 210

Freguesia do Salvador, Beja - vol. 6, n.º 74, p. 521 a 540

Freguesia de Santa Clara do Louredo - vol. 21, n.º 134, p. 1205 a 1208

Freguesia de Santa Maria, Beja - vol. 6, n.º 74c, p. 558 a 562

Freguesia de Santa Victória - vol. 39, n.º 155, p. 963 a 966

Freguesia de Santiago, Beja – vol. 6, n.º 74a, p. 541 a 552

Freguesia de São Brissos - vol. 7, n.º 68, p. 1221 a 1222

Freguesia de São João Baptista, Beja - vol. 6, n.º 74b, p. 553 a 557

Freguesia de São Matias - vol. 23, n.º 87, p. 585 a 586

Freguesia de São Pedro de Pomares - vol. 29, n.º 205, p. 1415 a 1418

Freguesia de Selmes - vol. 34, n.º 117, p. 885 a 888

Freguesia de Santíssima Trindade – vol. 37, n.º 113, p. 1133 a 1134

Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Vilas Boas - vol. 41, n.º 334, p. 2017 a 2020

 

DICIONÁRIOS, COROGRAFIAS E HISTÓRIAS DE PORTUGAL

CARDOSO, Luis, Diccionario geográfico…, Tomos I e II, Lisboa, Regia Officina Sylviana, e da Academia Real, 1747-1751. Disponível em http://purl.pt/13938.

COSTA, Américo, Diccionario Chorografico de Portugal Continental e Insular, vol. III, Porto, Livraria Civilização, 1932.

COSTA, António Carvalho da, Corografia portuguesa e descripçam topográfica do famoso reyno de Portugal, com as notícias das fundações das cidades, villas e lugares, Tomo I, Lisboa, na Officina de Valentim da Costa Deslandes, 1706. Disponível em http://purl.pt/434.

LEAL, Pinho, Portugal antigo e moderno - Dicionário geographico, estatístico, chorographico, heráldico, archeológico, histórico, biographico e etymológico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande número de aldeias, vol. I, Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira e Companhia, 1873.

LIMA, Luís Caetano de, Geographia Historica de todos os Estados Soberanos da Europa, com as mudanças que houve nos seus dominios especialmente pellos Tractados de Ultrech, Rastad, Baden […] e com as genealogias das Casas Reinantes e outras mui principaes, Tomo II, Lisboa Ocidental, Officina de Joseph Antonio da Sylva, impressor da Academia Real, 1736. Disponível em http://purl.pt/403/5.

SILVA, Antonio de Moraes, Diccionario da Lingua Portugueza, Tomo I, 8.ª ed., Empreza Litteraria Fluminense, 1890.

 

INSTRUMENTOS METODOLÓGICOS

Instituto Geográfico do Exército, Carta Militar de Portugal, série M888, Folha 500.

Instituto Geográfico do Exército, Carta Militar de Portugal, série M888, Folha 509.

Instituto Geográfico do Exército, Carta Militar de Portugal, série M888, Folha 511.

Instituto Geográfico do Exército, Carta Militar de Portugal, série M888, Folha 520.

Instituto Geográfico do Exército, Carta Militar de Portugal, série M888, Folha 521.

 

ESTUDOS

AVELAR, Ana Paula Menino, Figurações da Alteridade na cronística da Expansão, Lisboa, Universidade Aberta, 2003.

CANAS, Costa, “Os Portugueses e a Determinação da Longitude”, in Anais do Clube Militar Naval, Vol. CXXV, Abril-Junho, 1995, p. 273. Disponível em http://www.academia.edu/6821037/Os_Portugueses_e_a_determina%C3%A7%C3%A3o_da_longitude, pp. 249-273.

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HESPANHA, António Manuel, As Vésperas de Leviathan - Instituições e Poder Político em Portugal - Séc. XVII, Coimbra, Livraria Almedina, 1994.

PERY, Gerardo Augusto, Estatistica Agricola do Districto de Beja, Parte I, Concelho de Beja, Lisboa, Imprensa Nacional, 1883.

RIBEIRO, Orlando, Ensaios de Geografia Humana e Regional, Lisboa, Editora Sá da Costa, 1970.

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SARAMAGO, José, Viagem a Portugal, 13.ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 1997.

SILVA, Félix Caetano da, “História das Antiguidades da Cidade de Beja”, in Arquivo de Beja, Vol. V, Fascs. I e II, 1948, pp. 196-210.

SILVEIRA, Joaquim Henriques Fradesso da, Mappas das Medidas do Novo Systema Legal comparado com as antigas nos diversos Concelhos do Reino e Ilhas, Lisboa, Imprensa Nacional, 1868.

 



[1] Cf. José Saramago, Viagem a Portugal, 13.ª ed., Lisboa, Editorial Caminho, 1997, p. 356.

[2] Cf. Gerardo Augusto Pery, Estatistica Agricola do Districto de Beja, Parte I, Concelho de Beja, Lisboa, Imprensa Nacional, 1883, p. 8.

[3] Cf. Orlando Ribeiro, “Cidade” in Dicionário de História de Portugal, dir. de Joel Serrão, Vol. I, Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1971, p. 579.

[4] Cf. António Carvalho da Costa, Corografia portuguesa e descripçam topográfica do famoso reyno de Portugal, com as notícias das fundações das cidades, villas e lugares, Tomo II, Lisboa, na Officina de Valentim da Costa Deslandes, 1708, p. 465. Disponível em http://purl.pt/434.

[5] Atente-se na precisão geográfica com que Carvalho da Costa localiza a Cidade de Beja. A passagem de uma mentalidade qualitativa a quantitativa remonta ao século XVI, naquilo que se pode considerar um processo de aritmetização do real. Cf. Ana Paula Menino Avelar, Figurações da Alteridade na cronística da Expansão, Lisboa, Universidade Aberta, 2003, pp. 31-36.

[6] Cf. Luís Caetano de Lima, Geographia Historica de todos os Estados Soberanos da Europa, com as mudanças que houve nos seus dominios especialmente pellos Tractados de Ultrech, Rastad, Baden […] e com as genealogias das Casas Reinantes e outras mui principaes, Tomo II, Lisboa Ocidental, Officina de Joseph Antonio da Sylva, impressor da Academia Real, 1736, p. 244. Disponível em http://purl.pt/403/5.

[7] Cf. Luis Cardoso, Diccionario geográfico…, Tomo II, Lisboa, Regia Officina Sylviana, e da Academia Real, 1747-1751, p 123. Disponível em http://purl.pt/13938.

[8] A edição da Corografia Portuguesa de Carvalho da Costa está datada de 1706-1712 e a do Diccionario Geografico de Luis Cardoso está datada de 1747-1751. A edição da Geografia Histórica de Luís Caetano de Lima está datada de 1734-1736.

[9]Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 6, n.º 74, p. 521.

[10] Sendo mais exacto do que Carvalho da Costa na determinação da latitude é-o menos na determinação da longitude, ainda que Carvalho da Costa também seja inexacto nessa determinação. As coordenadas da Cidade são: Latitude: 37º 50’ 31 N - Longitude: 7º 55’ 6 O.

O conhecimento da longitude de um dado local só ficou resolvido em finais de 1761 com o cronómetro de John Harrison. Se a resolução das questões técnicas deste problema surge apenas no século XVIII, os portugueses, contudo, já eram detentores dos conhecimentos teóricos para a determinação da longitude no período das descobertas. (Cf. Costa Canas, “Os Portugueses e a Determinação da Longitude”, in Anais do Clube Militar Naval, Vol. CXXV, Abril-Junho, 1995, p. 273. Disponível em http://www.academia.edu/6821037/Os_Portugueses_e_a_determina%C3%A7%C3%A3o_da_longitude.

[11] Cf. Gerardo Augusto Pery, op. cit., p. 9.

[12] Cit. António Carvalho da Costa, op. cit., pp. 468-469.

[13] Cf. Luis Cardoso, op. cit., Tomo II, p. 128.

[14] Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 6, n.º 74, p. 532.

[15] Cf. ANTT, idem, vol. 21, n.º 134, p.1206.

[16] Cf. ANTT, idem, vol. 12, n.º 473, pp.3303 e 3305.

[17] Cf. ANTT, idem, vol. 22, n.º 60, p. 404.

[18] Cilhas de colmeias: uma série, renque d’ellas. Cf. Antonio de Moraes Silva, Diccionario da Lingua Portugueza, Tomo I, 8.ª ed., Empreza Litteraria Fluminense, 1890, p. 465. Malhada ou colmeal seria termo mais correcto. Por silha ou silhar se deve entender a lage de xisto ou o ladrilho de barro cozido onde se apoia a colmeia.

[19] Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 42, n.º 7, p. 3. Ainda sobre a mesma Freguesia de Albernoa afirma o Padre Luís Cardoso: “Os frutos, que os moradores recolhem em mayor abundancia são trigos. Os gados que crião he de toda a casta, posto que não em grande quantidade pela incapacidade do terreno; pois não tem terra limpa, mais que a que cultivão os Lavradores; e tudo o mais são matos bravos, e crião-se nelles coelhos, perdizes, e lebres, e alguns porcos javalis, e muitas cilhas de colmeas.” Cit. Luís Cardoso, op. cit., Tomo I, p. 121.

[20] Cf. ANTT, idem, vol. 39, n.º 155, p. 965.

[21] Cf. ANTT, idem, vol. 37, n.º 113, p. 1133

[22] Cf. ANTT, idem, vol. 41, n.º 334, p. 2017.

[23] Cf. Livro do Quatro e Meio por Cento, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0048.

[24] Cf. idem, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0056.

[25] Cf. idem, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0074.

[26] Cf. idem, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0112.

[27] Cf. idem, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0117.

 

[28] Cit. Albert Silbert, op. cit., Vol. II, pp. 433-434.

[29] Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 25, n.º (N) 19, p. 116.

[30] Cf. ANTT, idem, vol. 6, n.º 74a, p. 545.

[31] O ordenamento agro-silvícola do agro bejense processou-se naturalmente durante séculos, estando hoje em dia a desaparecer os derradeiros vestígios da malha de centuriação que os Romanos nos legaram e que, à volta da urbe, eram facilmente observáveis (valados, taludes, aterros e desaterros, etc.). Cf. Manuel Lourenço Casteleiro de Goes, op. cit., Tomo I, pp. 112 e segs.

[32] Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 13, n.º (E) 43, p. 330.

[33] Cf. ANTT, idem, vol. 22, n.º 60, p. 407.

[34] Cf. ANTT, idem, vol. 23, n.º 169, p. 1119.

[35] Cf. ANTT, idem, vol. 37, n.º 113, p. 1133.

[36] Cf. ANTT, idem, vol. 42, n.º 7, p. 3.

[37] Cf. ANTT, idem, vol. 22, n.º 60, p. 407.

[38] Cf. ANTT, idem, vol. 23, n.º 169, p. 1119

[39] Cuba constituir-se-á em concelho por alvará régio de D. Maria I, datado de 18 de Dezembro de 1782; Pedrógão e Selmes são hoje freguesias do Concelho da Vidigueira e Marmelar integra a freguesia de Pedrógão; Alfundão e Peroguarda são freguesias do Concelho de Ferreira do Alentejo e Ervidel é freguesia do Concelho de Aljustrel; Beringel, hoje freguesia do Concelho de Beja, foi vila e sede de concelho entre 1519 e 1839 e São Pedro de Pomares integra a freguesia de Baleizão; a antiga freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Villas-Boas foi incorporada na freguesia de Nossa Senhora da Assunção de Ferreira do Alentejo. (Cf. Manuel Lourenço Casteleiro de Goes, Beja XX Séculos de História de uma Cidade, Tomo I, Edição da Câmara Municipal de Beja, 1988, p. 332.

[40] A Freguesia de Repreza, referenciada nos Livros do Quatro e Meio por Cento para efeitos fiscais, não é, contudo, objecto de qualquer referência nas Memórias Paroquiais.

[41] Cf. José Silvestre Ribeiro, op.cit., pp. 61-62.

[42] Cf. Livro do Quatro e Meio por Cento, 1758 - PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0120, fls. 97vº-100vº e Instituto Geográfico do Exército, Carta Militar de Portugal, série M888, Folha 511.

[43] Cf. ANTT, Memórias paroquiais, vol. 29, n.º 205, p. 1417.

[44]Encontra-se situada na margem esquerda da ribeira de São Pedro, afluente do Ribeiro de Odearce – sítio, na época, conhecido por Belmonte – local solitário e ainda hoje quase descampado, defrontando um roqueiro, mas pitoresco cabeço de emaranhado chaparral, despido de moradores, pois o casario da capelania, sacristia e de romeiros, construídos a par da face sul da igreja, encontra-se desabitado e em ruínas”. Cit. Túlio Espanca, Inventário Artístico de Portugal – Distrito de Beja, Vol. XII, Lisboa, Academia Nacional de Belas Artes, 1992, p. 222.

[45] Cf. Livro do Quatro e Meio por Cento, 1758 - PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0120, fls. 101-102vº e Instituto Geográfico do Exército, Carta Militar de Portugal, série M888, Folha 521.

[46] Cf. idem, PT/ADBJA/AL/CMBJA/F-A/002/0120, fls. 95vº-97vº e Instituto Geográfico do Exército, Carta Militar de Portugal, série M888, Folhas 509 e 520.

[47] Integrando no actual concelho de Beja as freguesias de Beringel e Trigaches e descontando as freguesias de Cuba, Pedrogão, Selmes, Alfundão, Peroguarda, Ervidel e Nossa Senhora da Conceição de Villas-Boas temos que a sua área é, no presente, de 1147 Km2, área ainda assim considerável e que faz do município de Beja o 9.º a nível nacional.

[48] Cit. António Manuel Hespanha, As Vésperas de Leviathan - Instituições e Poder Político em Portugal - Séc. XVII, Coimbra, Livraria Almedina, 1994, p. 55

[49] Cf. idem, ibidem, pp. 85-111.

[50] Beringel, que perdeu a valia administrativa de concelho em 1839, é, na actualidade, freguesia do concelho de Beja.

[51] Cit. Pinho Leal, Portugal antigo e moderno - Dicionário geographico, estatístico, chorographico, heráldico, archeológico, histórico, biographico e etymológico de todas as cidades, villas e freguezias de Portugal e de grande número de aldeias, vol. I, Lisboa, Livraria Editora de Mattos Moreira e Companhia, 1873, p. 363.

[52] Cf. Américo Costa, Diccionario Chorografico de Portugal Continental e Insular, vol. III, Porto, Livraria Civilização, 1932, p. 447.

[53] Cf. António Carvalho da Costa, op cit., pp. 470-471.

[54] Cf. ANTT, Memórias Paroquiais, vol. 7, n.º 8, p. 755.

[55] Cf. António Carvalho da Costa, op.cit., p. 249.

[56] Cit. idem, ibidem, p. 468.

[57] Cit.Félix Caetano da Silva, “História das antiguidades da Cidade de Beja”, in Arquivo de Beja, Vol. V, Fascs. I e II, 1948, pp. 199.

[58] Machial, amexial ou amechial: terras – herdades, matos e montados – situadas fora dos coutos da cidade, em terras de légua afora, utilizadas para o pascigo dos gados. Cf. Manuel Lourenço Casteleiro de Goes, op. cit., p.305 e Livro das Posturas, 1738, PT/ADBJA/AL/CMBJA/B-A/002/0003, fl. 94vº.

[59] Esta renda, chamada “Renda das galinhas”, ainda em 1824 rendia cerca de 160 bicos, pagos aos oficiais camarários, tendo sido cobrada até 1837. Cf. Manuel Lourenço Casteleiro de Goes, op. cit, p. 305.

[60] Moio, medida de capacidade; 6 alqueires correspondiam a 1 saco e 60 a um moio. No Concelho de Beja o alqueire equivalia a 13,34 litros e o moio a 800,4 litros. Cf. Joaquim Henriques Fradesso da Silveira, Mappas das Medidas do Novo Systema Legal comparado com as antigas nos diversos Concelhos do Reino e Ilhas, Lisboa, Imprensa Nacional, 1868, p. 26.

[61] Cf. António Carvalho da Costa, op. cit., pp. 468-469.

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