O RETORNO
Os avós dos mais idosos ainda se
iluminaram com a candeia de azeite. Era assim nas vilas e aldeias cujo viver
pouco se alterara ao longo de séculos. Depois veio o petróleo. Iluminação
pública não existia, a não ser nas cidades: Lisboa, a capital, conheceu-a no
período pombalino, ditada por razões de segurança. Com o surgimento dessa
maravilha da ciência e da técnica, a electricidade, vulgarizou-se a iluminação
pública, que começou por contemplar as cidades e as vilas. Depois,
paulatinamente, foi-se alargando às aldeias mais populosas. Digo electrificação
pública, dos espaços públicos, não dos espaços domésticos. Durante muitos anos
tremeluziu a lâmpada eléctrica, de fraca luminosidade, alumiando a rua, mas na
casa justamente junto ao poste de luz que a iluminava exteriormente continuava
a usar-se o candeeiro a petróleo. E o mesmo poderia suceder em todas as casas
de uma rua. A baixada e a instalação da energia eléctrica no espaço doméstico
comportava um orçamento fora dos limites dos apertados orçamentos domésticos, que
as necessidades de prover à alimentação do agregado familiar absorviam na sua
maior parte. A generalização do uso da energia eléctrica para fins domésticos,
mais do que para a iluminação pública, foi um processo lento que só acelerou
nos finais dos anos 60 do século passado.
As águas e o saneamento vieram
posteriormente. Foi tarefa crucial do poder municipal no pós-25 de abril.
Estavam as aldeias, enfim, dotadas com as comodidades que a tecnologia proporcionava
às sociedades modernas. Ironicamente, digo eu, pois que tais comodidades
chegavam quando já se havia iniciado um movimento migratório, ditado pelas alterações
estruturais da economia, que haveria de esvaziar as vilas e aldeias outrora pejadas
de gente. O encerramento de escolas foi o mais desalentador sinal dessa nova
realidade. Ficaram aqueles que o mundo do trabalho, agora distante, dispensava,
pela idade e baixas qualificações. Aldeias há onde já ninguém habita e que se
encontram à venda, integrando o pacote o não vendável, a história, as memórias
e os afectos irremediavelmente perdidos.
A recente pandemia veio valorizar e potenciar,
contudo, uma nova realidade para a qual alguns, ainda que pouco escutados, já vinham
chamando a atenção: o teletrabalho. As TIC possibilitam o trabalho não presencial,
viabilizam o ensino a distância para o qual já existem instituições especializadas,
lembremos entre nós a Universidade Aberta. Para trabalhar, para estudar, basta
ter um computador e ligação à Internet. Poderá esta nova realidade determinar o
regresso de muitos à vila, à aldeia, agora despovoadas, mas onde se desfruta da
segurança, da tranquilidade, da qualidade de vida que os grandes centros litoralizados,
onde se localiza o trabalho, são incapazes de proporcionar? Poderão as
vantagens ambientais e de valorização dos espaços de baixa intensidade, como
agora se diz, daqui decorrentes estimular o poder político a promover esse
movimento de retorno? Ouviremos de novo o riso das crianças iluminar as ruas e
ruelas das nossas taciturnas e envelhecidas vilas e aldeias?
O problema é o "...basta ter um computador e ligação à Internet..." quando em muitas das localidades o melhor acesso é ADSL... embora pago a frequentemente mais caro que um acesso de fibra "na cidade". Evidentemente que a rentabilidade para os operadores numa pequena vila ou aldeia, em que poderão ter 100, 200, 300 clientes (ou como no local onde estou talvez 1000 clientes) não é comparável ao de uma cidade (onde poderão ter esses clientes numa rua...), mas se tivesse existido este mero exercício de cálculo de rentabilidade não teria igualmente sido instalado o saneamento básico nessas aldeias. Pior ainda pelos preços praticados no ADSL para o operador não faz sentido investir um cêntimo para a instalação de fibra pois provavelmente reduziria a sua facturação.
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